Esperar o inesperado. A atitude mais sensata ante o talento
silencioso de Sarah Louise.
Depois de em 2017 ter assinado com Sally Anne Morgan o magnífico “House and Land” e de “Deeper
Woods”, o álbum a solo do ano passado, Sarah Louise optou por fazer uma pausa na vertente tradicionalista,
colocando as sonoridades inspiradas pelas cordilheiras dos Appalaches em stand
by.
Quem chegar a “Nighttime Birds and Morning Stars” sem
conhecer os dois discos atrás referidos certamente julgará tratar-se de uma
outra artista. A ligação à natureza e as preocupações ecológicas estão
presentes, mas a roupagem das canções caracteriza-se por uma sofisticação até
aqui inédita na artista.
Desta forma, ainda que lá atrás permaneçam esboços dos sons emergentes
das paisagens rurais da Carolina do Norte, “Nighttime Birds and Morning Stars”
é um disco predominantemente urbano; simultaneamente arrojado e diversificado.
A habitual 12 cordas acústica foi substituída pela guitarra
eléctrica e as sonoridades que cria ao longo dos oito temas do disco bordejam a
música ambiente, a improvisação avant-garde ou o jazz contemporâneo.
Alguns dos temas ( “Ancient
Intelligence”, “Rime”, “Chitin Flight” ) muito provavelmente de forma
involuntária, ecoam ainda aquele psicadelismo angular e aditivo com que o neo
zelandês Roy Montgomery nos brindou na
década de 90 do século passado.
Mera coincidência ou talvez não, a estrutura de certos temas
e a forma como as teclas/sintetizadores os envolvem ( “Swarming at the
Threshold” , “Late Night Healing Choir” ) reconduzem-nos também até às visionárias
paisagens sonoras com que os Tarentel
coloriram São Francisco no dealbar do milénio.
“Nighttime Birds and Morning Stars” é um trabalho tão desafiante
para quem o escuta como seguramente o foi para quem o pensou e lhe conferiu
forma. Neste âmbito, não será muito arriscado afirmar estarmos perante um
futuro clássico moderno.