A mais que provável separação dos Sonic Youth, poderá vir a tornar-se
uma oportunidade para Lee Ranaldo.
Com efeito, aquele que já foi apelidado o George Harrison da
banda de NY ( sempre confinado a duas ou três canções por álbum nos SY ) poderá
agora afirmar-se definitivamente como o compositor sólido e versátil que sempre
foi, mas que muita gente não deu conta, ofuscada que estava pelo frenético jogo
de sombras do casal Moore/Gordon.
As composições de Ranaldo para os SY, raramente valorizadas,
funcionavam como um pêndulo, ligavam à terra uma banda que, na opinião do
Atalho, com demasiada frequência “se perdia” no atonal e no feedback. Neste
aspecto particular, o concerto de 2010
no Coliseu chegou a ser penoso.
“Between the times and the tides” é um trabalho enérgico e
inspirado. Por mera coincidência ou porque o guitarrista guardou para si as
suas melhores composições, o facto é que qualquer destes 10 temas, respira
melodia e preenche a alma como muito dificilmente as suas congéneres de “Demolished
thoughts” (exceptuando talvez “Benediction” e “Illuminine”) alguma vez
conseguirão.
Dito de outra maneira: “Between the times and the tides” é
um trabalho imaginado, concebido e produzido (a meias entre Lee e John Agnello)
para não soar datado daqui a uns meros seis meses. Equilíbrio é a expressão que
emerge e com o decorrer das audições
“Waiting on a dream”, “Off the Wall”, Xtina as I knew her”, “Angles” ou
“Lost” surgem cada vez mais e imprescindíveis. Curiosamente ou talvez não,
conduzem-nos até “Daydream Nation” …