Neil Young é um arquivista compulsivo. Dessa característica
resultam factos positivos e menos
positivos, dependendo ambos naturalmente da abordagem e ponto de vista de cada um.
No que estritamente respeita à divulgação do vastíssimo catálogo,
umas vezes serão menos positivos pois ficamos dependentes dos humores, decisões
e timings do canadiano, os quais nem sempre, para não dizer quase sempre, coincidem
com os nossos desejos. Positivos nas restantes situações porque, quando os astros
surgem alinhados, somos presenteados com pérolas que o dito arquivista
compulsivo decide finalmente libertar.
Dito isto, olhemos para o recente “Early Daze”, um conjunto
de gravações datadas de 1968 e 1969.
Como é suposto inferir a partir das datas, acompanham Young
os Crazy Horse originais ( Danny Whitten, Billy Talbot, Ralph Molina e Jack
Nitzsche ), a melhor formação da banda de apoio de que o canadiano dispôs ao
longo da sua longa carreira ( se se derem ao trabalho de escutar ou reescutar o
primeiro álbum dos Crazy Horse perceberão o que se pretende salientar ).
Nove temas, ou melhor nove versões, uma vez que não está
presente nenhum inédito. Exceptuando “Dance Dance Dance” e “Everybody’a alone”
( ambas já publicadas no Volume I dos “Archives” ), as restantes sete são
versões alternativas Mono ou Stereo, mas até à data inéditas.
Escute-se por exemplo “Look at all the things” para se conferir
o que atrás se disse sobre a primeira formação dos Crazy Horse e sobre a perda
gigantesca que foi o desaparecimento precoce de Danny Whitten, neste particular
enquanto compositor.
No que diz respeito ao Whitten instrumentista bastará atentar
aqui nas versões “imperfeitas” de “Cinnamon Girl” ou “Down by the river” para
se aquilatar da dimensão da perda.
Quanto ao mais “Early Daze” é momento de puro gozo, sabemos
que não iremos encontrar ali um novo mapa da mina. Porém a atmosfera “work in progress”,
descontraída e despretensiosa que emerge das sessões será porventura o ambiente
onde o talento dos protagonistas melhor flui.
Estas gravações são contemporâneas do período em que a Band
gravou “Music from Big Pink” e “The Band”.
Pode até parecer uma comparação abusiva, mas não me recordo de nenhuma versão
de “Helpless” em que Ralph Molina tenha feito tão bem de Levon Helm como aqui.
Se puderem não percam!