“Issued in March 1969, Island’s celebrated label sampler ‘You Can All Join In’ featured an iconic front cover photo of their various acts, shivering in Hyde Park on a cold winter’s morning. One of the musicians pictured on the cover, however, wouldn’t be allowed to join in. Recorded in November 1968, West Country-based country blues performer Ian Anderson’s album ‘Stereo Death Breakdown’ was scheduled to be issued by Island, but Jethro Tull’s management complained that having two Ian Andersons on the label would be confusing.”
( David Wells in “Separate
Paths Together, an Anthology of British Singer/Songwriters 1965-1975” )
Recordei o texto acima ao constatar
que “Stereo Death Breakdown” é um dos trabalhos que integra a
compilação “Please Re-adjust your time, The Early Blues & Psych-Folk
Years 1967-72”.
Titulado pela Anderson’s Country
Blues Band, o álbum acabaria por ser publicado pela Liberty em Junho de
1969, sendo agora recuperado na sua totalidade, acrescido de temas entretanto
publicados em EPs onde Anderson partilhou o talento e o country blues com Al
Jones, Elliott Jackson, Mike Cooper e Jo-Ann Kelly entre outros.
Só que nove meses é muito tempo e, na época,
as coisas mudavam mais depressa que a duração normal de uma gestação humana.
A cena de Bristol mudara e a inspiração deixou de ser Alexis Korner, os
blues man americanos ou o trio Koerner, Ray & Glover e com a
emergência de Keith Christmas ou Michael Chapman as referências
mudaram rapidamente para o neo-folk britânico protagonizado por nomes como Shirley
Collins, Incredible String Band ou Dr. Strangely Strange.
Em Abril de 1970 Anderson, apoiado em
Al Jones e Keith Christmas publicou “Book of Changes”
na Fontana ( infelizmente não licenciado para esta compilação e como tal irá permanecer
sem reedição oficial ) mas o projecto de lançamento de uma editora independente
já estava em marcha, a participação no primeiro Glastonbury Festival e a cada
vez maior inflexão em direcção à tradição folk britânica era já irreversível,
donde que a publicação de “Royal York Crescent” em Novembro de 70
na acabada de nascer Village Thing Records não surpreenda minimamente.
No inicio, “Royal York Crescent”
ainda parece querer manter a ligação à sonoridade bluesy americana através de
“No Way To Get Along”, mas conteúdo e
forma rapidamente se encaminham para uma maior englishness, suportada pela
voz e incomum técnica de Anderson na guitarra acústica ( em tempos alguém
definiu o som como “heavy folk” ) sempre coadjuvado por um nada despiciendo Ian
Hunt na segunda acústica.
Um ano após, Dezembro de 1972, nova
inflexão estilística com “Singer Sleeps on as Blaze Rages”.
A habitual segunda guitarra Ian Hunt está ausente ( entretanto a gravar com
John Turner o excelente “Magic Landscape” também para a Village
Thing ) e está de regresso a colaboração com Mike Cooper com quem
Anderson não gravava desde 67. Eclético será o termo apropriado para
caracterizar este último álbum de Ian Anderson para sua própria editora. O
country blues está de novo presente, o picking também, obviamente e por aquela
via. A espaços, muitos, paira a sensação de que Leo Kottke e a sua genial técnica de bootleneck passaram
por ali, intermitentemente. Trata-se de mera ilusão naturalmente. Kottke está
para além de qualquer imitação, por mais competente que possa ser ser.
Num dos discos menos equilibrados de
autor, sobram os excelentes “Maria Celeste on Down”, “Sign of the Times” e “Shirley
Temple Meets Hawkwind”, os quais deixam a milhas uma versão incaracterística de
“Paint it, Black” dos Stones. Os quatro temas extra fazem parte do
espólio dos Hot Vultures, um duo que Anderson experimentaria nos anos seguintes
ao lado da baixista Maggie Holland, mas que a história não registou com empenho
significativo.
Tudo resumido, e tendo em conta que
os discos originais se transacionam hoje como se barras de ouro se tratassem, regista-se
o facto de poder escutar numa única edição a quase totalidade da globalmente
interessante obra do autor. Lamentando uma vez mais o facto de “Book of
Changes” ter ficado maioritariamente de fora ( Fausto afinal não
está só na sua recusa em permitir a reedição do seu álbum estreia para a
Philips ).