The Seventh Ring of Saturn! O nome diz quase tudo.
Oriundo de Atlanta e sediado em Northampton, Massachusetts, este grupo de
modernos psiconautas desloca-se no cosmos em direcção aos anéis de Saturno. A
melhor tradição psicadélica dos últimos 40 anos tem lugar cativo na viagem, originando
um incandescente rasto de memórias e de sons perfeitos.
Oito anos separam “Ormythology” do primeiro álbum dos
SROS. Pelo meio ficaram vicissitudes pessoais várias; tentativas de
preenchimento dos espaços com um conjunto de singles publicados na Fruits de
Mer bem como de estabelecer pontes com o passado, por via de versões de temas dos
Grateful Dead, Hollies, Beatles ou Pretty Things.
Mas a identidade da banda de Ted Selke e Jeremy Knauff era
outra, como ficara patente no homónimo álbum de estreia. “Ormythology” resgatou-os
à hesitação. São cerca de 30 minutos frenéticos, dois originais e seis versões,
onde a luz provocada pelo rasto da componente psicadélica se cruza,
fundindo-se, com o exotismo e raízes do médio oriente.
Sem complexos formais “Ormythology” tanto pode revisitar a
Dinamarca roqueira dos 70s, seguir para a secular Constantinopla à boleia de um
hit exótico ou terminar em São Francisco homenageando as “Mountains of the
Moon” de Jerry Garcia. “Burning a hole in my head …” canta Selke no tema de
abertura. O desafio está lançado e percebe-se que as vibrações “power pop” dos
The Rooks ou o filigrana psych dos Chemistry Set não estão longe. “Teli Teli
Teli”, um tema grego popularizado no final da década de 70 por Hanis Alexiou, tem
aqui uma versão instrumental que os SROS transformam num campo de batalha entre
as guitarras sujas em modo fuzz e o som cristalino da sitar.
“Time to fly”, dinâmico e luminoso, parece descender
directamente de “Damn the Torpedoes”, enquanto “Karli Daglar” desliza até à
Turquia e ao álbum “Elektronik Türküler”
de Erkin Koray. Atlântico de novo
atravessado em direcção a Minneapolis:
“Faces”, a versão de uma semi obscura garage band – TC Atlantic – conhece um
tratamento vip, de tal forma que a busca do original é o passo seguinte.
“Yedikule” e “Uzun Ince Bir Yoldayim” regressam respectivamente à Grécia e
Turquia tradicionais, enquanto a terminar, “Spaceman” veste o fato de gala do
heavy psych na revisitação de um dos
títulos do álbum de 1972 dos
dinamarqueses Hurdy Gurdy.
Uma estimulante viagem pelos sons do mundo, “Ormythology”
podia perfeitamente ser um cometa. Deixa atrás de si um rasto de sensações que
compensam e recompensam a cada nova audição. É verdade, ainda existem discos assim.