“J’ai beau connaître les statistiques (il n’y a que trois autres États
plus grands que le Montana, quarante et unième à rejoindre l’Union; et à peine
700 000 habitants sur un territoire si vaste ), le Montana reste pour moi
une paysage mental. Un État dans ma
tête. Les livres m’y ont amené. Les livres anciens, bien sûr, comme les carnets
de voyage de Lewis et Clark, ou le merveilleux livre d’ Andrew Garcia, Tough
Trip Through Paradise. Mais ceux qui m’y ont vraiment amené sont mês
contemporains, des écrivans qui ont entre vingt et quarente-cinq ans. À la fin
des annés 70, le Montana est devenue une sorte d’alternative oxygénée à Key
West, à Martha’s Vineyard ou à Taos pour les artists américains …”
Montana, Philippe Garnier,
Rock & Folk, Janeiro 1982.
Já o escrevi aqui no Atalho. Philippe Garnier é uma
inspiração!
Não foi por sua causa
que comecei a alinhar as palavras. O apelo já existia. Mas foi sem qualquer dúvida o grande
responsável por eu não ter desistido.
Através de uma narrativa escorreita, mas pincelada por
detalhes e repleta de factos histórico-culturais, o autor colocou-me na rota de
um sem número de escritores ( Jim Harrison, Thomas McGuane, Rick Bass, Larry
Watson, James Cain, David Goodis, James Salter, Larry Brown, John Fante,
William Burnett … ), de estatura diversa embora todos de inegável talento. Explicou-me
Sam Peckinpah e Wim Wenders como nenhum outro o fizera até ali; apresentou-me a
André Toth; falou-me de Dashiel Hammett e de Bogart, de Warren Oates e Dennis Hopper, de Mitchum e Coppola… De Capra.
E de …
Na música, esteve sempre perto do que realmente importava na
época em que despachou para a Rock & Folk. Wall of Voodoo, Cramps, X, New York
Dolls, Gun Club, Tom Petty, Fleshtones, Dream Syndicate, Rain Parade …. Um manancial de informação inesgotável,
à espera de ser tratada e devidamente absorvida. Assim o interesse existisse.
“L’Oreille d’un Sourd, L’Amerique dans le Rétro, 30 ans de Journalisme”
é uma compilação de artigos publicados maioritariamente no Libération , periódico
que o acolheu desde os anos 80 até meados
de 2009 ( “En mars 2009, on m’a signifié qu’il n’y avait plus de place pour moi à
Libération. On n’ essaiera pas ici de feindre d’ignorer ce détail, ni les
sentiments qu’il inspira sur le coup, aprés vingt-huit ans de collaboration” ).
Déjà vu ?
E, ao longo de 550 páginas, sob a figura tutelar do mítico Nick Tosches, é um deleite rever esta escrita jornalística, simultaneamente
simples e erudita, debruçada sobre o cinema, a literatura, a arquitectura, a música, a tradição, ... a cultura enfim. Apaixonante e (in)formativa,
sempre.
Pela minha parte gostaria de ter visto aqui incluídos alguns dos
textos publicados na Rock & Folk ou nos Inrockuptibles. Mas ainda assim, como
nunca nada pode ser absolutamente perfeito, tal como está, “L’Oreille
d’un Sourd”, é mais do que
poderia desejar como companhia para os
finais de tarde sombrios que se aproximam.