“The simpler the better”, é um velho aforismo de que o Atalho muito
gosta e que procura ter sempre presente.
Porque é verdade na maioria das vezes e também porque serve para refrear a
tentação de valorizar a complexidade em detrimento do singelo. Daí que por vezes
seja muito gratificante escutar discos como “Late but never”.
O conhecimento deste registo semi-obscuro, criado no talento de Steffi Thiel ( textos e voz ) com a colaboração de Michael Cashmore (instrumentos e produção),
chegou-me por via de um leitor e amigo, a quem agradeço.
Steffi Thiel é uma jovem cantora e compositora alemã cujo
trabalho talvez nunca tivesse visto a luz do dia, não fora o interesse de
Michael Cashmore e David Tibet (Current 93). O primeiro porque colaborou na
execução, o segundo porque decidiu publicá-lo na sua editora. “Late
but never” é um daqueles discos que habitam as sombras e vivem da e na
intimidade do autor. Aparentemente autobiográfico, mas que ao tornar-se familiar,
ganha uma perspectiva universal, este primeiro registo de Thiel, evoca o trabalho da compatriota Sibylle Baier. Tivesse esta contado com
o apoio de um outro qualquer Michael
Cashmore, quando entre 1970 e 73, gravou as canções que viriam a dar origem a “Colour
Green” e talvez estas pudessem
ter sido publicadas em tempo, e não apenas em 2005.
“Late but never” acolhe um conjunto de melodias de uma
serenidade quase celestial, envolvendo textos simples e pungentes. Reais,
porque saídos de um cenário familiar:
o quotidiano – “Tonight is so quiet/and round the paper mil/the car park lies so
still/a few raindrops fall from a cloud/her vague shapes billow and lace/and I dream I long to see your eyes
cry watercolour skies”, (“Tonight”).
Excelente matéria prima, devidamente aprimorada e valorizada
pela minúcia instrumental de Cashmore. E,
no final, após contínuas audições, canções como “Tonight”, “Hearts fear”, “Late
but never”, “Hello tangerine” ou “A voice through a cloud”, tornam-se amigas, cúmplices. Bandas sonoras do nosso dia a dia.
No fundo a melhor certificação para a sua autenticidade.