30/10/24

KEITH NOBLE "Mr. Compromise"

Mr Compromise” corporiza um paradoxo. Está longe de ser um álbum capital para a maioria dos que dele têm conhecimento e, no entanto, é-o para a legião dos Pink Floyd irredutíveis. 

Explicando: no início dos anos 60 Keith Noble esteve na origem dos Meggadeaths, uma banda obscura na qual militavam também a irmã Shelagh, Clive Metcalfe, Vernon Thompson, Nick Mason e Richard Wright. 

Os Meggadeaths deram origem aos Sigma 6 e estes, por seu turno, aos Abdabs. Por esta altura um jovem estudante de arquitectura de nome Roger Waters passa a integrar o projecto. A partir daqui, o caminho sonoro em direcção aos Pink Floyd estava descoberto. 


Detentor de um novo estatuto, o de baixa colateral, Keith Noble dedica-se à composição. Em parceria com Clive Metcalfe escreve “A summer song”, um tema que em Outubro de 1964 catapultou o duo Chad & Jeremy para o top da Billboard. 

No entretanto vai compondo e gravando. No final de 1970 publica o resultado dessas actividades, “Mr. Compromise”. A edição foi privada, materializada num insignificante número de cópias oferecidas a amigos e membros da família. Um mito/lenda acabara de nascer no seio dos fãs dos Floyd.
 

Mr. Compromise” merecerá a fama que o precede? Sim, não ou ainda talvez. Rigorosamente nada a ver com Pink Floyd ( qualquer que seja o ângulo ou a época que se aborde ), os 10 temas que compõem o álbum, porventura por terem sido compostos e gravados em diferentes épocas, carecem de uniformidade.

O lado A, exceptuando o tema título, fica muito aquém das expectativas, e as hipotéticas comparações com Al Stewart ou Roy Harper são manifestamente exageradas.

O lado B é por seu turno, francamente interessante. “Dandelions have their day”, “Weather”, “King of Iceman” e “Ashes and Silver” são das melhores filigranas, aqui e ali experimentais, que o psych-folk britânico da época foi capaz de produzir. E, estes sim, são temas a escutar com a devida atenção.

A mais de meio século de distância, percebe-se que “Mr. Compromise” não poderia ter tido título mais adequado.


26/10/24

Heroes are hard to find ( 100 )


Phil Lesh

( 15 Março 1940 - 25 Outubro 2024 )

20/10/24

Artefactos ( 137 )


Jornal "Se7e", Julho 1984


14/10/24

Jardins do Paraíso ( 86 )

 


Publicado no México em 1969, embora gravado em Janeiro do ano anterior na República Dominicana por um colectivo de músicos porto-riquenhos, “Kaleidoscope” permanece um disco raríssimo e porventura uma das maiores obscuridades do período em apreço.

Na altura em que o álbum foi concebido, o psicadelismo, designadamente o americano, encontrava-se no seu zénite. Daí não ser estranho que “Kaleidoscope” seja sobretudo influenciado pelas sonoridades americanas e quase nada por aquelas que atravessavam o Atlântico.

O fuzz, os riffs e um omnipresente órgão planante não deixam espaço para a mais pequena dúvida. The Doors, 13th Floor Elevators ou Iron Butterfly, corporizam algumas das sonoridades que assomam à memória quando se escutam temas como “Hang out”, “Hole in my life”, “Colours” ou “I’m here, he’s gone, she’s cryin”. As guitarras em modo fuzz e/ou riff, vão colorindo as telas que o órgão ( muito “The End” /  “When the music’s over” ) cria de forma obsessiva e hipnotizante.

E depois há “Once upon a time there was a world”; uma suite que resume toda a essência da linguagem psicadélica da época. Tão líricos quanto dramáticos, os 8m 10s  que a compõem definem na perfeição o legado único do colectivo Kaleidoscope.

Se existem reedições oportunas e necessárias, esta é seguramente uma delas.

25/09/24

Lost Nuggets ( 188 )


Whistler, Chaucer, Detroit, and Greenhill  "The Unwritten Works of Geoffrey, Etc." ( UNI 73034 ), USA, 1968

- "The Viper, What John Rance had to tell" ( Joseph Burnett )
- "Day of Childhood" ( Scott Fraser / Edd Lively )
- "Upon walking from the nap" ( David Bullock )
- "Live till I die" ( David Bullock )
- "Street in Paris" ( Joseph Burnett )
- "As pure as the freshly driven snow" ( Joseph Burnett )
- "Tribute to Sundance" ( David Bullock )
- "House of collection" ( Scott Fraser / Edd Lively )
- "Just me and her" ( Scott Fraser / Edd Lively )
- "On lusty gentlemen" ( Joseph Burnett )
- "Ready to move" ( David Bullock )

Membros: Edd Lively, David Bullock, Scott Fraser e Philip White.

Produção: Joseph Burnett, aka T-Bone Burnett

Gravação: Sound City Studios, Forth Worth, Texas

Capa: design e fotos: Guy Clark

09/09/24

Lost Nuggets ( 187 )

Meg Baird, Helena Espvall, Sharron Kraus "Leaves from off the tree" ( Bo'Weavil Recordings, weavil 16CD ), UK, 2006

- "Bruton Town"
- "Barbry Ellen"
- "Fortune my foe"
- "Willie of Winsbury"
- "The Nightingale"
- "John Hardy"
- "The Derry Dems of Arrow"
- "Now Westlin' Winds"
- "False Sir John" 

Meg Baird (voz e guitarra ), Sharron Kraus ( voz, guitarra e dulcimer ), Helena Espvall ( voz e violoncelo )

Canções tradicionais

Capa: design de Sharron Kraus e Dale Berning, foto Micah Danges

07/09/24

Leituras


"Easy to Love, Antologia Beat Feminina" ( Edições Sr. Teste, Julho 2021 )

"Terrascopedia nº 23" ( Agosto 2024 )

"Uma Coney Island da Mente", Lawrence Ferlinghetti ( Antígona, Março 2024 )

30/07/24

Jardins do Paraíso ( 85 )

 


Como Fred Neil, Scott Walker, Phil Ochs ou Tim Buckley, Tim Hollier possuía uma daquelas vozes “larger than life”, um instrumento adicional que de forma quase cinematográfica coloria as suas melodias e projectava os textos de Rory Fellowes.

Message to a Harlequim”, o primeiro álbum é muito isso, mais o que somam os arranjos, órgão e piano de John Cameron, a flauta de Harold McNair e o baixo de Danny Thompson.

Alicerçada em temas como o que titula o álbum, “Jimmy”, “And I”, “Hanne” ou “In Silence”,  e face ao que neles se escuta, a estreia de Hollier terá de ser analisada à luz daquela sonoridade épica e paisagística que bordejava o primeiro de David Ackles, o segundo de Buckley ou os primeiros álbuns de Tom Rush e Tim Hardin.

Prometia muito e hoje, à distância de cinco décadas, conclui-se que cumpriu sem rebuço nem hesitação. Porém, Hollier não era americano e o Reino Unido estava a despedir-se do psicadelismo em direcção ao progressivo. Não havia espaço para trovadores dos sentidos. O álbum, publicado em Outubro de 1968, passou largamente incógnito.

David Hemmings seria todavia premonitório ao escrever as notas na contracapa do disco: “… if he is your speed you will be waiting impatiently as I am for his next.”



Na verdade, abrindo com o fantástico “Seagull’s Song”, “Tim Hollier”, o segundo álbum, percorre outros caminhos, não necessariamente menos estimulantes para quem o escuta.

Um clássico do primeiro ao último tema, passando pela capa ( da autoria de Rick Cuff, também responsável pela guitarra acústica e piano ) “Tim Hollier” é um trabalho cuidado, frágil na estrutura e nos processos, mas que avaliado pelo todo se posiciona como um dos grandes discos de 1970.

John Cameron não estava disponível, logo os arranjos de cordas que pululavam no álbum anterior estão ausentes. Nada que afecte o resultado final. A escrita e a composição, partilhadas entre Tim Hollier / Amory Kane / Rory Fellowes, são acomodadas pelo já referido acompanhamento de Cuff, a que se juntam a flauta de Ed Coleman, a guitarra de Hector Sepúlveda, e a voz, piano e guitarra acústica de Amory Kane.

“Seagull’s Song” é extraordinário, como o são também “Evolution”, “Maybe you will stay“, “In this room” ou “Evening Song”.

A influência de Tim Buckley, omnipresente no álbum estreia, partilha agora o espaço com o paradigma sonoro Donovan, o que não é de todo uma má notícia.



Tal como o anterior, “Tim Hollier” não conheceu adesão significativa, apesar de Hollier ser ter esforçado por divulgá-lo ao partilhar os palcos com Joe Cocker, Nick Drake, David McWilliams, David Bowie e Third Ear Band.

Fevereiro de 1971, “Skysail”. As orquestrações de John Cameron estão de volta. Seria suposto terem algum protagonismo, harmonizando o resultado final. Nada disso  acontece porém. Genericamente, a qualidade/consistência dos temas está muito aquém do esperado ( recomendado ).

Skysail” é lamentavelmente um equívoco, difícil de compreender tendo em conta o que nos aportaram os dois discos anteriores.

Time has a way of losing you, The Tim Hollier Anthology” inclui ainda dez versões oriundas de sessões na BBC e os dois temas do single “The Circle Is Small”,  nenhum deles verdadeiramente inesquecível.

16/07/24

Artefactos ( 135 )




Revista "Let It Rock" nºs 1, 2, 3

UK, 1972

10/07/24

Hungrytown "Circus For Sale"

 


Circus For Sale” configura o quarto álbum dos Hungrytown, um projecto dinamizado pela dupla Rebecca Hall / Ken Anderson.

Residentes no Vermont, Rebecca ( voz e guitarra ) e Ken ( voz, acordeão, banjo, baixo, bateria, piano, órgão, dulcimer, mandolim, vibrafone, guitarra e harmónica ) ensaiam em “Circus For Sale” uma tentativa de coabitação entre o “americana” e o folk barroco.

A ideia não é nova. Já outros o haviam tentado, com resultados diversos.

No caso em apreço, “Circus For Sale” acaba por não ser um mau disco, mas está longe de ser um muito bom exemplo do género.

Rebecca Hall é detentora de uma magnífica voz e Ken Anderson é um multi instrumentista competente. Tais atributos não serão todavia suficientes para, por si só, produzirem os resultados almejados.


Em “Circus For Sale”, os originais ( da autoria exclusiva de Rebecca ou, noutros casos, da própria dupla ) surgem pouco diferenciados, carecendo de homogeneidade.

Por seu turno, de tão ambiciosos, os arranjos e orquestrações aparentam ter pouco a ver com as matrizes do folk barroco e porventura do “americana”.

Ao invés, os temas objecto de versão são uma outra história.

“Man Of Poor Fortune”, uma “murder ballad” escrita por Rebecca e originariamente incluída no álbum a solo “Rebecca Hall Sings ( 2000 ) bem como “Morning Brings Peace Of Mind” cortesia de Bert Jansch ( “When The Circus Comes To Town”, 1995 ), constituem-se como pedras angulares neste disco, provando, certamente de forma involuntária e não planeada, que “Circus For Sale” poderia ser muito melhor se os seus autores tivessem optado por observar a regra do menos é mais.

Ainda assim, um projecto a seguir.

03/07/24

Neil Young & Crazy Horse "Early Daze"

 


Neil Young é um arquivista compulsivo. Dessa característica resultam factos positivos e  menos positivos, dependendo ambos naturalmente da abordagem e  ponto de vista de cada um.

No que estritamente respeita à divulgação do vastíssimo catálogo, umas vezes serão menos positivos pois ficamos dependentes dos humores, decisões e timings do canadiano, os quais nem sempre, para não dizer quase sempre, coincidem com os nossos desejos. Positivos nas restantes situações porque, quando os astros surgem alinhados, somos presenteados com pérolas que o dito arquivista compulsivo decide finalmente libertar.

Dito isto, olhemos para o recente “Early Daze”, um conjunto de gravações datadas de 1968 e 1969.

Como é suposto inferir a partir das datas, acompanham Young os Crazy Horse originais ( Danny Whitten, Billy Talbot, Ralph Molina e Jack Nitzsche ), a melhor formação da banda de apoio de que o canadiano dispôs ao longo da sua longa carreira ( se se derem ao trabalho de escutar ou reescutar o primeiro álbum dos Crazy Horse perceberão o que se pretende salientar ).

Nove temas, ou melhor nove versões, uma vez que não está presente nenhum inédito. Exceptuando “Dance Dance Dance” e “Everybody’a alone” ( ambas já publicadas no Volume I dos “Archives” ), as restantes sete são versões alternativas Mono ou Stereo, mas até à data inéditas.



Escute-se por exemplo “Look at all the things” para se conferir o que atrás se disse sobre a primeira formação dos Crazy Horse e sobre a perda gigantesca que foi o desaparecimento precoce de Danny Whitten, neste particular enquanto compositor.

No que diz respeito ao Whitten instrumentista bastará atentar aqui nas versões “imperfeitas” de “Cinnamon Girl” ou “Down by the river” para se aquilatar da dimensão da perda.

Quanto ao mais “Early Daze” é momento de puro gozo, sabemos que não iremos encontrar ali um novo mapa da mina. Porém a atmosfera “work in progress”, descontraída e despretensiosa que emerge das sessões será porventura o ambiente onde o talento dos protagonistas melhor flui.

Estas gravações são contemporâneas do período em que a Band gravou “Music from  Big Pink” e “The Band”. Pode até parecer uma comparação abusiva, mas não me recordo de nenhuma versão de “Helpless” em que Ralph Molina tenha feito tão bem de Levon Helm como aqui.

Se puderem não percam!

02/07/24

Heroes are hard to find ( 99 )


Fausto Bordalo Dias

( 26 Novembro 1948 - 1 Julho 2024 )



Revista "Mundo Moderno" nº 49, 1 Dezembro 1970 

31/05/24

Jardins do Paraíso ( 84 )

 


He subsequently carved out a succeful career in the ELT (English Language Teaching) field, but as a student at the University of East Anglia in the late Sixties, the young Jeremy Harmer was a Bert Jansch-influenced guitarist and singer/songwriter.

Accompanied by fellow student David Costa, he played at folk clubs and events in the Norwich area before staging a student union concert that led to him recording the album ‘Idiosyncratics And Swallows Wings’ in single-take sessions at a local BBC studio.

Restricted to 99 copies, the album – akin to a homemade version of Nick Drake’s ‘Five Leaves Left’ – featured some beguiling chamber pop arrangements and self-consciously poetic, exquisitely gloomy songs like ‘People Smile With Ghosts In The Land Of Make-believe’, featuring David Costa on second guitar and Sue Humphris on backing vocals.

Costa was significantly affected by the experience (“I knew from that very moment on that was what I wanted to do … I just wanted to play guitar in a band”), dropping out of university and putting together Trees. He attempted to recruit Sue Humphris as lead singer, but she declined, suggesting instead that they audition her sister Celia.”



( Harmer e David Costa )

David Wells disse acima o que de essencial precisa ser dito a propósito de Jeremy Harmer. “Idiosyncratics and Swallows Wings” é um disco diferenciado que, caso tivesse sido objecto de adequado tratamento profissional no momento de captação de som e posteriormente de produção, seria hoje mais do que já é por via da história que o envolve, um marco da música inglesa dos finais dos 60s.

We recorded de LP late at night at the big studio on Anglia TV. It was not really satisfactory. The equipment was not great and the engineer – who did it for free i seem to remember – was not especially experienced as a sound engineer, but rather a TV programme engineer. I can’t remember any mixing conversations etc. But I guess there must have been. I remember being rather worried about the sibilance in the vocal tracks but there was never a chance to do anything about that. And on top of that i wasn’t really very experienced about that kind of thing.”



(Harmer e Nick Drake no Marlborough College, meados de 1965)

Entre a melancolia endémica de Nick Drake, a tristeza de Robert Wyatt e o folk barroco de Duncan Browne, “Pastiche”, o belíssimo “Sad Song”, “Home of Years”, o tocante “Melanie” ou o “pesadelo utópico” ( palavras do autor ) que é “People Smiling With Ghosts In The Land Of Make-believe”, “Idiosyncratics and Swallows Wings” é um disco que não sendo perfeito no que concerne à forma, é absolutamente essencial do ponto de vista criativo e histórico.

Uma última nota, eventualmente do interesse dos audiófilos: “Due to the lack of master tapes, this reissue has been sourced from original vinyl.” ( do folheto que acompanha a reedição )

29/05/24

Artefactos ( 134 )



Mac MacLeod "Remember the Alamo/Candy Man", Suécia, 1965

Mac MacLeod, a personagem que inspirou Donovan a escrever "Hurdy Gurdy Man






Ptolemaic Terrascope nº 28, Janeiro de 2000