17/02/25

"American Baroque Chamber Pop and Beyond 1967 - 1971"

The heyday of baroque pop – or chamber pop, or orchestral pop – ran from 1966 to the turn of the 70s. It used string quartets, harpsichords and woodwinds to create a summer-into-autumn melancholy that was quite new, and quite far removed from rock’n’roll as Eddie Cochran would have know it.” ( Steve Stanley, in booklet ) 

No seguimento do muito recomendável “Tea & Symphony – The English Baroque Sound 1968 – 1974”, Steve Stanley debruçou-se sobre as correntes norte americana e canadiana do género. 

O “pop barroco” ou “pop de câmara” ou “pop orquestral”, tende frequentemente a ser colado ao “soft” ou “sunshine pop”, com o(s) qual(ais) se gemina amiúde, donde a frequente hesitação. Aqui o curador procurou, registe-se, evitar a sobreposição, tarefa nada fácil dada a já referida interpenetração entre os conceitos. 

Dito isto, a compilação “American Baroque Chamber pop and beyond 1967-1971” faz por merecer a larga maioria das duas dúzias de títulos que a integram. 

Permite-nos aceder ao óbvio: The Merry-Go-Round ( com Emitt Rhodes ), Association, The Monkees, Nico, The Common People, Eternity’s Children, H. P. Lovecraft, até mesmo Nora Guthrie ou The Stone Poneys ( com Linda Ronstadt ). 

Porém a “novidade”, ou desafio se preferirem, consubstancia-se na inclusão de temas dos Appaloosa de John Compton, The Pleasure Fair ( produzidos pelo pré-Bread David Gates ), John Randolph Marr ( com produção de Nilsson ), do canadiano Tom Northcoot ( o single “Other times” é uma revelação ) ou dos Montage, refractários dos Left Banke e cujo álbum homónimo é ainda um segredo muito bem guardado. 

Para o Atalho, além do atrás destacado, revelaram-se particularmente impressivos: “Time”, um título de Hal Shaper e Jean Pierre Bourtayre para a voz da canadiana Bonnie Dobson, “Two by two” interpretado pelo ex-Left Banque Steve Martin Caro e “My Plan”, um monumental épico procol harumiano que o ex-Association Russ Giguere incluiu no álbum “Hexagram 16” de 1971. 

American Baroque 1967-1971” aponta um desafio inesgotável. Nele, uma descoberta conduz naturalmente a muitas outras. No final, aos temas observados, adicionam-se um sem número de outros que o gosto e a curiosidade do ouvinte no entretanto determinou.

12/02/25

Jeannie Piersol "The Nest"

 


Genuíno produto de época, “The Nest”, o single, poderia ter constituído a porta de acesso para uma carreira de sucesso. Resultado das idiossincrasias da sua interprete acabou como uma curiosa, embora muito interessante, nota de rodapé na história do psicadelismo de São Francisco.

Contemporânea e amiga do clã Slick ( Grace, Darby e Jerry ) Jeannie Piersol chegou a integrar a formação inicial dos The Great Society -  Darby equacionava explorar a complementaridade das vozes de Grace e Jeannie. Esta última porém, abandonaria o projecto de forma precoce, manifestando incómodo face às “substâncias ilícitas” presentes nos ensaios do grupo.

Continuou no entanto a frequentar a cena psicadélica emergente na Bay Area, tendo integrado os The Yellow Brick Road com os quais actuou no Matrix em Março de 1967. No entretanto, o então cunhado Darby Slick, recém regressado da India, lança uma Opa musical sobre o colectivo que se metamorfoseia, troca alguns dos membros e passa a denominar-se Hair.



( The Yellow Brick Road )

Mais tarde, em Maio de 1968, ainda apoiada na criatividade de Darby, publica o primeiro dos seus dois únicos singles a solo: “Gladys / With Your Love”. Em Fevereiro de 1969 segue-se o segundo: “The Nest / Your Sweet Inner Self”.

A recente compilação “The Nest” integra ambos para além de oito inéditos: dois temas captados no palco Matrix com os Yellow Brick Road, outros dois títulos gravados nos estúdios da Golden State em São Francisco pelos Hair e ainda quatro composições resultantes de sessões  levadas a cabo em 1968.

O denominador comum à maioria das gravações é Darby Slick: toca guitarra e sarod, assina quatro composições e produz a larga maioria.



 ( Hair )

Mais do que oportuna, “The Nest” é uma compilação estimulante. Nem todos os títulos possuem igual densidade / criatividade. Porém a voz ( talvez mais do que as próprias composições ) de Jeannie Piersol cola o conjunto das partes, separadas pelo tempo e intervenientes diversos.

“The Nest”, a canção, é uma composição aditiva, maioritariamente acústica, até a guitarra fuzz de Darby Slick nos recordar que o ano era 1969. “Joined In Space” e “Heading For The Sun”, ragas psicadélicos, poderiam ter sido assinados por qualquer uma das grandes bandas da Bay Area. Quanto a “Gladys”, “Quivering” ou “Light Sinking Down” não destoariam nos alinhamentos de “Takes Off” ou “After Bathing At Baxter’s”.

A homogeneidade é uma característica difícil de concretizar na maioria das compilações. “The Nest” não é excepção.  Todavia permite descobrir um talento que durante anos se recolheu por trás da caixa de uma agência do Bank Of America / São Francisco, para além da sonoridade marcante de uma banda efémera – The Yellow Brick Road” – da qual até à data nada sabíamos.

26/01/25

Lost Nuggets ( 194 )

The Walkabouts "Satisfied Mind" ( Sub Pop SP 116 / 294 ) Germany, 1993

- "Satisfied Mind" ( Rhodes / Hayes ) 
 - "Loom of the land" ( Nick Cave ) 
- "The River People" ( Robert Forster ) 
- "Polly" ( Gene Clark ) 
- "Buffalo Ballet" ( John Cale ) 
- "Lovers's crime" ( Pewee Maddux ) 
- "Shelter for an evening" ( Gary Heffern ) 
- "Dear darling" ( Mary Margaret O'Hara ) 
- "Poor side of town" ( Johnny Rivers ) 
- "Free Money" ( Patti Smith / Lenny Kaye ) 
- "The storms are on the ocean" ( The Carter Family ) 
- "Feel like going home" ( Charlie Rich ) 
- "Will you miss me when i'm gone" ( Tradicional ) 

The Walkabouts: Carla Torgenson ( voz, guitarra e violoncelo ), Michael Wells ( baixo e harmónica ), Terri Moeller ( bateria e percussão ), Glenn Slater ( piano, orgão, acordeão e sintetizador ) e Chris Eckman ( voz e guitarras ) 

com: Larry Barrett ( mandolin ), Peter Buck ( mandolin e bouzouki eléctrico ), Andrew Hare ( guitarra slide ), Clayton Park ( violino acústico e eléctrico ), Terry Lee Hale ( guitarra acústica ), Ivan Kral ( guitarra eléctrica e sintetizador ) e Mark Lanegan ( voz ). 

Produção: The Walkabouts e Kevin Suggs. 

Capa: design de Modern Dog, foto da capa "Herman in the Wheatfield", Grandma Sweeney's Village  Antiques

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21/01/25

Filigree "S/t"

Curiosamente ou talvez não, um dos melhores novos discos de folk rock britânico que escutei em 2024 foi gravado em 1973. Um facto extraordinário que por si só diz muito ou quase tudo sobre o actual estado das artes. 

Resultado da adição de dois duos folk oriundos do Hertfordshire – Chris e Roger Jeffery + Pat Turner e Pete Cunningham -, os Filigree detinham até há pouco um parco espólio discográfico que se materializava no single “Yo, Yo Man / Morning has begun” publicado pela Orange em 1973, uma fugaz participação no clássico de folk gótico “Sweet Williams Ghost” da dupla George Deacon & Marion Ross além da inclusão de dois temas num álbum privado e virtualmente impossível de localizar: “Pirton Live”. 

No verão de 2024 a Bright Carvings recuperou o aparentemente único acetato resultante das sessões que os Filigree levaram a cabo em 1973. Trata-se de um conjunto de títulos de folk / rock contemporâneo ( à época ) parcimoniosamente repartidos entre originais, tradicionais e versões. 

“Meet on the ledge” ( Richard Thompson ) e “No regrets” ( Tom Rush ), são desde sempre duas das minhas criações preferidas e a sua inclusão, naturalmente, também ajudou a chamar a minha atenção. Não obstante, as versões, minimalistas e empenhadas, não atingem o brilhantismo dos respectivos originais, o que de resto era expectável. 

Ao contrário, os tradicionais “Banks of the Lea”, “Shearings” e “Coventry Carol”, acompanham muito bem “Morning has begun” e “Snow Maiden”, dois belíssimos originais ambos assinados e deliciosamente vocalizados por Pat Turner. 

Por ora “Filigree” foi objecto de uma edição em vinil, limitada a 157 cópias. Caso corram nesta pista não se distraiam …

 

19/01/25

Leituras




"Terrascopaedia nº 24"

Edição Phil McMullen, UK, 28 páginas

Janeiro 2025


"Lindo Sonho Delirante Vol. 2"

Bento Araújo, Edição Poeira Press, Brasil, 230 páginas

2018

05/01/25

Lost Nuggets ( 192 )


The Sun Also Rises "S/t" ( Village Thing VTS 2 ), Lyric insert, UK, 1970

- "Until I do" ( Phil Sawyer / Graham Hemingway )
- "Wizard Shep" ( Graham Hemingway )
- "Part of the room" (Graham Hemingway )
- "Green Lane" ( Richard Silvester / Graham Hemingway )
- "Tales of Jasmine and Suicide" ( Graham Hemingway )
- "Flowers" ( Heather Holden / Graham Hemingway )
- "Song of Consolation" ( Spike Woods / Graham Hemingway )
- "Suddently it's evening" ( Graham Hemingway )
- "Death" ( Traditional )

The Sun Also Rises: Anne  Hemingway ( voz, dulcimer e percussão ) e Graham Hemingway ( canções, voz e guitarra acústica ), com John Turner ( baixo ) e Andy Leggett ( assobio )

Produção: The Sun Also Rises, Ian Anderson e Gef Lucena.

Capa: design de Andy Leggett, foto no verso de Graham Kilsby.

23/12/24

Leituras


"O ouvidor do Brasil, 99 vezes Tom Jobim
Ruy Castro, Tinta da China, 230 páginas, 2024

"Tino Flores, Uma Utopia Bela e Generosa"
Mário Correia, Sons da Terra, 224 páginas, 2022

20/11/24

Lost Nuggets ( 190 )


Galaxie 500 "On Fire" ( Rough Trade ) USA/UK, 1989

- "Blue Thunder"
- "Tell Me"
- "Snowstorm"
- "Strange"
- "When will you come home"
- "Decomposing trees"
- "Another day"
- "Leave the Planet"
- "Plastic bird"
- "Isn't it a pity" ( George Harrison ) 

Galaxie 500: Dean Wareham ( canções, voz e guitarra ), Damon Krukowski ( canções, bateria e percussão ) e Naomi Yang ( canções, voz e baixo ) com Ralph Carney ( sax tenor ) e Kramer ( coros e orgão em "Isn't it a pity" ).

Produção e notas na contracapa de Karmer.

Gravação: Noise New York Studio.


Sounds, 28 Outubro 1989




Blitz, 26 Dezembro 1989 

15/11/24

Crosby, Stills, Nash & Young "Live at Fillmore East, 1969"

 


What we lacked in finesse we made up for in enthusiasm. The better arrangements were still to come. A band on the run. Expecting to fly.” ( Stephen Stills, no booklet da edição )


Stills acertou na mouche. Revisão da matéria dada. Pouco a acrescentar e nada a retirar.

Live at Fillmore East, 1969” ( 20 de Setembro para sermos precisos ) é uma curiosidade histórica, apenas.

As prestações acústicas estão próximas das que já conhecíamos de “Four Way Street”, captadas em Junho e Julho do ano seguinte.

O alinhamento eléctrico é algo mais entusiasmante. Sendo que para tal concorrem os  extensos 16m19s que dura “Down by the river”, com Stills, Crosby, Greg Reeves e Dallas Taylor a ocuparem muito bem o espaço dos Crazy Horse em “Everybody knows this is nowhere”, bem como o hoje relativamente esquecido “Sea of Madness”, não obstante ter feito parte da banda sonora de “Woodstock” e integrado o Volume I dos Neil Young Archives.

No mais trata-se “do mercado a funcionar”.

13/11/24

Lost Nuggets ( 189 )


Eclection "S/t" ( Elektra EKL/EKS 74023 ) USA/UK, 1968

- "In her mind"
- "Nevertheless" ( Rosen )
- "Violet dew"
- "Will tomorrow be the same"
- "Still i can see"
- "In the early days"
- "Another time, another place"
- "Morning of yesterday"
- "Betty Brown"
- "St. George and the Dragon (Up the Knight)" ( Rosen )
- "Confusion" ( Rosen )

Eclection: Kerrilee Male ( voz ), Michael Rosen ( canções, voz, guitarra acústica, eléctrica e trompete ), Georg Hultgreen ( canções - excepto as indicadas -, voz, guitarras acústica e eléctrica ), Trevor Lucas ( voz e baixo ), Gerry Conway ( bateria e coros ).

Produção de Ossie Byrne
Orquestração e arranjos de Phil Dennys
Foto da capa de Joel Brodsky
Foto interior e design de William S. Harvey



Etiquetas USA e UK ( versões stereo )



Revista ZIGZAG nº 7, Novembro 1969




EP, Edição Portugal


EP Promocional, Edição Portugal

30/10/24

KEITH NOBLE "Mr. Compromise"

Mr Compromise” corporiza um paradoxo. Está longe de ser um álbum capital para a maioria dos que dele têm conhecimento e, no entanto, é-o para a legião dos Pink Floyd irredutíveis. 

Explicando: no início dos anos 60 Keith Noble esteve na origem dos Meggadeaths, uma banda obscura na qual militavam também a irmã Shelagh, Clive Metcalfe, Vernon Thompson, Nick Mason e Richard Wright. 

Os Meggadeaths deram origem aos Sigma 6 e estes, por seu turno, aos Abdabs. Por esta altura um jovem estudante de arquitectura de nome Roger Waters passa a integrar o projecto. A partir daqui, o caminho sonoro em direcção aos Pink Floyd estava descoberto. 


Detentor de um novo estatuto, o de baixa colateral, Keith Noble dedica-se à composição. Em parceria com Clive Metcalfe escreve “A summer song”, um tema que em Outubro de 1964 catapultou o duo Chad & Jeremy para o top da Billboard. 

No entretanto vai compondo e gravando. No final de 1970 publica o resultado dessas actividades, “Mr. Compromise”. A edição foi privada, materializada num insignificante número de cópias oferecidas a amigos e membros da família. Um mito/lenda acabara de nascer no seio dos fãs dos Floyd.
 

Mr. Compromise” merecerá a fama que o precede? Sim, não ou ainda talvez. Rigorosamente nada a ver com Pink Floyd ( qualquer que seja o ângulo ou a época que se aborde ), os 10 temas que compõem o álbum, porventura por terem sido compostos e gravados em diferentes épocas, carecem de uniformidade.

O lado A, exceptuando o tema título, fica muito aquém das expectativas, e as hipotéticas comparações com Al Stewart ou Roy Harper são manifestamente exageradas.

O lado B é por seu turno, francamente interessante. “Dandelions have their day”, “Weather”, “King of Iceman” e “Ashes and Silver” são das melhores filigranas, aqui e ali experimentais, que o psych-folk britânico da época foi capaz de produzir. E, estes sim, são temas a escutar com a devida atenção.

A mais de meio século de distância, percebe-se que “Mr. Compromise” não poderia ter tido título mais adequado.


26/10/24

Heroes are hard to find ( 100 )


Phil Lesh

( 15 Março 1940 - 25 Outubro 2024 )