Como Fred Neil, Scott Walker, Phil Ochs ou Tim Buckley, Tim
Hollier possuía uma daquelas vozes “larger than life”, um instrumento adicional
que de forma quase cinematográfica coloria as suas melodias e projectava os
textos de Rory Fellowes.
“Message to a Harlequim”, o primeiro álbum é muito isso, mais
o que somam os arranjos, órgão e piano de John Cameron, a flauta de Harold
McNair e o baixo de Danny Thompson.
Alicerçada em temas como o que titula o álbum, “Jimmy”, “And
I”, “Hanne” ou “In Silence”, e face ao
que neles se escuta, a estreia de Hollier terá de ser analisada à luz daquela
sonoridade épica e paisagística que bordejava o primeiro de David Ackles, o
segundo de Buckley ou os primeiros álbuns de Tom Rush e Tim Hardin.
Prometia muito e hoje, à distância de cinco décadas,
conclui-se que cumpriu sem rebuço nem hesitação. Porém, Hollier não era
americano e o Reino Unido estava a despedir-se do psicadelismo em direcção ao
progressivo. Não havia espaço para trovadores dos sentidos. O álbum, publicado
em Outubro de 1968, passou largamente incógnito.
David Hemmings seria todavia premonitório ao escrever as
notas na contracapa do disco: “… if he is your speed you will be waiting
impatiently as I am for his next.”
Na verdade, abrindo com o fantástico “Seagull’s Song”, “Tim
Hollier”, o segundo álbum, percorre outros caminhos, não necessariamente menos
estimulantes para quem o escuta.
Um clássico do primeiro ao último tema, passando pela capa (
da autoria de Rick Cuff, também responsável pela guitarra acústica e piano )
“Tim Hollier” é um trabalho cuidado, frágil na estrutura e nos processos, mas
que avaliado pelo todo se posiciona como um dos grandes discos de 1970.
John Cameron não estava disponível, logo os arranjos de
cordas que pululavam no álbum anterior estão ausentes. Nada que afecte o
resultado final. A escrita e a composição, partilhadas entre Tim Hollier /
Amory Kane / Rory Fellowes, são acomodadas pelo já referido acompanhamento de
Cuff, a que se juntam a flauta de Ed Coleman, a guitarra de Hector Sepúlveda, e
a voz, piano e guitarra acústica de Amory Kane.
“Seagull’s Song” é extraordinário, como o são também
“Evolution”, “Maybe you will stay“, “In this room” ou “Evening Song”.
A influência de Tim Buckley, omnipresente no álbum estreia,
partilha agora o espaço com o paradigma sonoro Donovan, o que não é de todo uma
má notícia.
Tal como o anterior, “Tim Hollier” não conheceu adesão
significativa, apesar de Hollier ser ter esforçado por divulgá-lo ao partilhar
os palcos com Joe Cocker, Nick Drake, David McWilliams, David Bowie e Third Ear
Band.
Fevereiro de 1971, “Skysail”. As orquestrações de John
Cameron estão de volta. Seria suposto terem algum protagonismo, harmonizando o
resultado final. Nada disso acontece porém.
Genericamente, a qualidade/consistência dos temas está muito aquém do esperado
( recomendado ).
“Skysail” é lamentavelmente um equívoco, difícil de
compreender tendo em conta o que nos aportaram os dois discos anteriores.
“Time has a way of losing you, The Tim Hollier Anthology”
inclui ainda dez versões oriundas de sessões na BBC e os dois temas do single “The
Circle Is Small”, nenhum deles
verdadeiramente inesquecível.