03/07/25

Record Files ( 32 )



Entre outros, poucos, “Crucifix in a Horseshoe” é um dos álbuns que procuraria salvar de uma catástrofe natural, ou de qualquer outra. 

“Life After Dead”, “Motel Blues” e “And You Say I’m Too Dependent On My Mind”, os três primeiros temas, são absolutamente extraordinários, sendo que a versão electrificada de “Motel Blues” pede meças ao espartano e inspirador original acústico de Loudon Wainwright

Mais conhecido como cantor ( Manfred Mann, The Blues Band ), Paul Jones nunca viu justamente valorizados os seus dotes enquanto compositor, muito provavelmente porque “Crucifix in a Horseshoe”, o seu trabalho mais adulto, permanece ainda hoje relativamente obscuro, mesmo junto dos fãs da Vertigo, a editora que o publicou em Novembro de 1971. 

O Atalho já anteriormente fez referência ao disco na rubrica “Lost Nuggets nº 13”. Volta agora ao tema para sinalizar uma reedição em CD da RPM Records datada de 2010 e que terá passado relativamente despercebida. 

Não tanto pelo áudio, o qual permite descobrir detalhes dificilmente não identificáveis na edição original de vinil, mas sobretudo pela inclusão de mais seis títulos que resultaram de sessões levadas a cabo em 1972 e projectadas para publicação na Vertigo sob o número de catálogo 6360 075 ( logo após “Changes” dos Catapilla e imediatamente antes de “Belladonna” de Ian Carr ), algo que todavia nunca aconteceu porque os responsáveis da editora, ao que se sabe, não encontraram entre os temas propostos um potencial single. 



A referência a Catapilla e a Ian Carr não é inocente. Os 34 minutos que duram estes seis temas têm, do ponto de vista estético e/ou sonoro, mais a ver com aqueles projectos ( ou com outras matrizes Vertigo como Nucleus, Cressida ou Colosseum ) do que propriamente com “Crucifix in a Horseshoe”. 

Este foi gravado em Nova Iorque, produzido por Ted Cooper e arranjado por Thomas Jefferson Kaye, tendo contado com um naipe de músicos americanos para o efeito creditados como White Cloud e em cujos curriculuns surgem colaborações com Dr. John, Rhinoceros, Gene Clark, Byrds ou Elephant’s Memory . A pegada sonora é pois vincadamente americana. 

Os seis temas bónus no CD da RPM foram gravados em Inglaterra. Os músicos / co-compositores são, entre outros: George Khan ( Mike Westbrook Orchestra, Pete Brown and His Battered Ornaments, The People Band ), Dave Macrae ( Matching Mole, Nucleus, The Mike Gibbs Band, Soft Machine ), Gary Boyle ( Mike Westbrook Orchestra, Brian Auger & The Trinity, Isotope ), Roy Babbington ( Centipede, Keith Tippett Trio, The Mike Gibbs Band, Soft Machine, Matching Mole ) e Roy Otemro ( The Lee Riders ). 

No total e exceptuando o desajustado “Wrestler”, são 34 minutos de jazz rock experimentalista a que adicionam fortes pinceladas de Canterbury. Um conjunto aparentemente contrastante com o que se escuta em “Crucifix in a Horseshoe”. Apenas aparentemente, porque o substantivo “complemento” faz aqui todo o sentido.

22/06/25

Lost Nuggets ( 204 )


Gary Farr "Strange Fruit" ( CBS S 64138 ), UK, 1970

- "In the mud"
- "Old man boulder"
- "Strange fruit" ( Lewis Allen )
- "Margie"
- "Revolution of the season"
- "About this time of year"
- "Down among the dead men"
- "Old man Moses"
- "Proverbs of heaven and hell"
- "Sweet Angelina"

Gary Farr: canções, voz, guitarras e harmónica; com: Richard Thompson ( guitarra solo ), Ian Whiteman ( piano e flauta ), Roger Powell ( bateria ) e  Mick Evans ( baixo )

Produção: Fritz Fryer

Arranjos de cordas: Mike Batt

Capa: fotos de Eric Hayes e Daniel Leone


Record Collector # 318, Janeiro 2006

18/06/25

Lamb "An Extension Of Now: Unreleased Recordings 1968-1969"

 


Above all, we weren’t trying to do anything like anybody else. We were odd for the oddballs! We just simply did what came out. That was really what makes, I think, our music stand apart.”  ( Bob Swanson )


Impossível de caracterizar, Lamb ( duo constituído por Bob Swanson e Barbara Mauritz ) criou uma das mais ecléticas e intrigantes obras musicais que São Francisco conheceu nos finais dos 60s.

Coexistem nos seus três LPs fragmentos de folk, rock, roots, country, gospel, clássico, psicadélico, blues, raga-rock…, todos ou à vez contribuindo para a criação de uma aura tão mística quanto esotérica a qual, naturalmente, e tendo em consideração os padrões comummente vigentes e celebrados na música da west cost da época, nada ajudou ao sucesso do projecto.

Até há pouco tempo admitia-se que “A Sign of Change” ( 1970), “Cross Between” e “Bring Out The Sun” ( ambos de 1971 ) seriam os únicos testemunhos do trabalho que o duo levou a cabo. Sabe-se agora que Bob Swanson tinha na sua posse fitas contendo gravações que pré-datam o primeiro álbum em quase dois anos. Julho de 1968 mais precisamente.



( Foto de Robert Altman )

Austero, predominantemente acústico, “An Extension of Now: Unreleased Recordings 1968-1969” reúne um conjunto de temas que sem grande risco poderemos classificar de inéditos, tanto mais que os poucos que vieram a integrar o alinhamento dos álbuns acima, conhecem aqui desenvolvimentos e versões diversas.

Ancorado em dois títulos: “Flotation” e “La Plaza De La Paz”, “An Extension Of Now” é um estimulante desafio que, uma vez cumprido, se revela amplamente recompensador.

Somam-se, um excelente aúdio ( tendo em conta a idade das fitas ) e as notas de Richie Unterberger, informativas e competentes como é de resto habitual.

06/06/25

Lost Nuggets ( 203 )


Jaki Whitren "Raw But Tender" ( Epic EPC 65645 ) Lyric Insert, UK, 1973

- "New Horizon"
- "Oh Little Boy" ( Jaki Whitren / Alan Baker )
- "A Little Bit Extra Please"
- "Country Life"
- "To a Friend, Through a Friend (Let Your Feelings Burn)"
- "But Which Way Do I Go?"
- "Give Her The Day"
- "Ain't It Funny?"
- "I've Though Hard About It"
- "As That Evening Sun Goes Down"
- "Human Failure" ( Mike Leslie )
- "Running All The Time" ( Whitren / Baker )

Jaki Whitren: canções ( excepto as indicadas ), voz, guitarra e banjo, com: Pat Donaldson, Brian Brocklehurst e Lindsay Cooper ( baixo ), Gerry Conway ( congas e bateria ), Albert Lee ( guitarra dobro ), Rob Young ( flauta ), Marie Goosers ( harp ), Henry VII ( jug ), John Van Derrick ( violino ), Gordon Huntley ( guitarra slide ), Frank Ricotti ( congas ), Ivan Chandler ( piano ), Malcolm Griffits ( trombone ), Stan Sulzmann ( sax tenor ), Stuart Cowell ( guitarra ) e Mike Leslie ( voz e guitarra ).

Produção de Stuart Cowell

Arranjos de Rob Young

Capa: design de Roslav Szaybo, foto de Valerie Santagto.


Record Collector 318, Janeiro 2006

29/05/25

Sunlight "Creation of Sunlight"

 


Despite the reissues some people are still unfamiliar with this Sunset Strip-style psych wonderama, so full of 60s summer charm you’ll play it over and over. Strawberry Alarm Clock’s first two LPs seem an obvious reference for these guys, and they pull it off with equal talent and class. There’s hardly a dull moment as “midnight travels to Mulholland Drive” are projected, with swinging Hammond-guitar interplay and upbeat vocal harmonies. To me, one of the most essential LA rarities, on the same label as Merkin.”

( Patrick Lundborg, “The Acid Archives” )


Habitualmente tendo a concordar com as opiniões que Patrick Lundborg expressou nos seus The Acid Archives. Porém, no caso presente não seria tão entusiasta.

Creation of Sunlight”, publicado em 1970 na privada Windi Records e agora oficialmente reeditado, tem os seus momentos; alguns dos temas são consistentes  - “Light without heat”, “In the middle of happy”, Second thoughts” ou “Colors of love” ( todos saídos da pena do vocalista Gary Young ) -, contudo a maioria está longe de convencer.

Vocalizações indistintas, um caldo de sunshine-pop mesclado com fuzz,  órgão omnipresente ( e não, o título “Hammond Eggs” não é uma caricatura ao contrário do que se poderia pensar ) algures entre o padrão Eugénio Pepe e as prestações de Gregg Rolie nos primeiros Santana, são alguns dos condimentos que os meus ouvidos questionam e que tornam o álbum algo maçador, a roçar o mainstream, arriscaria.

Dito isto, “Creation of Sunlight” terá os seus apóstolos e merece certamente o tempo de uma audição. Os mais de  quatro dígitos a que hoje se transacionam os escassos originais em circulação são, ao invés, totalmente injustificados.

25/05/25

Lost Nuggets ( 202 )


Famous Jug Band "Sunshine Possibilities" ( Liberty LBS 83263 ), UK, 1969

- "Can't Stop Thinking About It" ( Alan Tunbridge )
- "Nicholson Sq." ( Clive Palmer )
- "He Never Came Back" ( Traditional )
- "A Leaf Must Fall" ( Clive Palmer )
- "Shaky Train Blues" ( Pete Berryman )
- "The Only Friend I Own" ( Berryman )
- "Black Is The Color" (Palmer, Berryman, Jill Johnston )
- "Sara Jane" ( Jerry Fuller, Snuff Garrett )
- "Train On The Island" ( Traditional )
- "The Main Thing" ( Berryman )
- "Breakfast Blues" ( Berryman )
- "Sunshine Possibilities" ( Berryman )

Famous Jug Band: Clive Palmer ( voz, guitarra e banjo ), Jill Johnston ( voz ), Pete Berryman e Henry Bartlett ( voz e jug ).

Produção: Peter Richard

Capa: design EBM Studios; notas de Pierre Tubbs


Da esquerda para a direita, Clive Palmer, Henry Bartlett, Jill Johnston e Pete Berryman


( Record Collector nº 309, Abril 2005 )

20/05/25

"World Countdown"

 


World Countdown advocates that MUSIC is a strong emotional unifying force for good, and if promoted and expanded it will unite peoples of all tribes, languages, colours, countries and circumstances in peace and love. Hence the predominant purpose of this newspaper.”

( Charles Royal, February 1967 )

 


Por vezes referido como Royal’s World Countdown, o jornal World Countdown foi publicado na California ( San Francisco e Hollywood ) entre os anos de 1966 e 1969. Editado por Charles Royal, foi objecto de periodicidade mensal, quinzenal ( mais tarde ) e conheceu 29 edições.



Magazine raro, mesmo na época, foi lançado em formato tabloide, começando por ser conhecido como “The First Worldwide Big Beat Newspaper” para, ironicamente e tendo em conta a relativa obscuridade, terminar apelidado de “This Earth’s Leading Newspaper”.


O agora publicado “World Countdown, Music Newspaper, August 1966 – July 1967” ( Edição de Richard Morton Jack, publicação de Lansdowne Books Limited ) reproduz página por página as primeiras 16 edições do jornal, abrangendo o fim da carreira dos Beatles e o pleno florescimento do rock underground com o Monterey International Pop Festival.


12/05/25

Record Files ( 31 )

 


( CBS 63460 ) UK

Provavelmente o único álbum onde Jimmy Page e Richard Thompson partilham a guitarra solo, “Love Chronicles” foi editado no Reino Unido em Janeiro de 1969.

Nos Estados Unidos e Canadá, o disco foi licenciado pela Epic que optou por um design diferente. No caso recuperando a foto de Sophie Litchfield que figurava no verso da capa inglesa, para a destacar na frente.

Um dos grandes discos de Al Stewart ( “Zero she flies” será outro ), “Love Chronicles” conta com mais prestações da família Fairport Convention.

Assim, para além de Richard Thompson ( sob o pseudónimo de Marvyn Prestwick por razões contratuais ), estão também presentes Ashley Hutchings  no baixo, Martyn Lamble ( Martyn Francis ) na bateria e Simon Nicol ( Brian Brocklehurst ) na guitarra.



( Epic BN 26564 ) USA e Canadá

09/05/25

Richard, Cam & Bert "Somewhere in the stars"

 


1968, Greenwich Village, Nova Iorque. Richard Tucker, Campbell Bruce e Bert Lee, formam uma banda a qual titulam Richard, Cam & Bert.

Cantores veteranos do Central Park e das ruas MacDougal e Bleecker, colaboraram regularmente com Fred Neil, Tim Hardin e Karen Dalton ( à época casada com Tucker), tendo actuado amiúde nos conhecidos Gaslight Cafe, Village Underground ou Olive Tree Cafe.

Daí até gravarem para a Trilogy Records o hoje esquecido e menosprezado álbum “Private Pressing ( 1970 ) foi um pequeno passo.

Previamente, meados de 1969, o trio frequentara os Peer-Southern Studios gravando um conjunto de demos exploratórias cujo objectivo, entre outros, seria produzir material/canções passíveis de serem vendidas a outros artistas. Alguns desses temas acabaria regravados para “Private Pressing”; a maioria porém permaneceu inédita.



Somewhere in the stars”  recupera o resultado daquelas sessões, permitindo o contacto com as primeiras gravações do grupo.

A atmosfera é rústica e descontraída. No conjunto, os 13 títulos soam  francamente agradáveis e, a espaços, inspiradores.

As raízes e influências estão todas lá: “Sweet Mama”, uma versão do tema de Fred Neil; “Sleeping in the garden” escrita a meias entre Tucker e Karen Dalton; “Are you leaving for the country” outra canção de Tucker repescada em 1971 por Karen Dalton para o seu álbum “In my own time”.

Para além destas, refiram-se ainda os coloquiais “Sitting in the kitchen” e “My health is failing me Baby” mas, sobretudo, o tocante “One of these first nights”, um título de Campbell Bruce a merecer ser resgatado da penumbra que o reteve mais de meio século.



( Richard Tucker e Karen Dalton )

Os incondicionais de Tim Hardin detectarão em “Somewhere in the stars” ecos que lhes parecerão familiares. Faz todo o sentido; enquanto juntos Tucker e Dalton formaram um trio com o compositor originário do Oregan, tendo realizado diversas actuações.

Tudo somado, uma muito interessante curiosidade histórica.

07/05/25

Lost Nuggets ( 201 )


Ida "Will you find me" ( Tiger StyleTS005 ) CD, USA, 2000

- "Down on your back" ( Daniel Littleton )
- "Maybelle" ( Daniel Littleton / Elizabeth Mitchell )
- "This water" ( Karla Schickele )
- "Shrug" ( Daniel Littleton )
- "The Radiator" ( idem )
- "Shotgun" ( idem )
- "Turn me on" ( Daniel Littleton / Elizabeth Mitchell )
- "Man in mind" ( Karla Schickele )
- "Past the past" ( Daniel Littleton ) 
- "Georgia" ( Elizabeth Mitchell )
- "Triptych" ( Daniel Littleton )
- "Firefly" ( Karla Schickele )
- "Encantada" ( Daniel Littleton / Elizabeth Mitchell )
- "Don't get sad" ( Daniel Littleton )

Ida: Daniel Littleton ( voz, guitarra, piano, wurlitzer e orgão ), Elizabeth Mitchell ( voz, guitarra e wurlitzer ), Karla Schickele ( voz, baixo, piano e orgão ) e Michael Littleton ( bateria, percussão, acordeão ); com: Ida Pearle ( violino ), Rick Lassiter e Andrew Hall ( duplo baixo ), Cecilia Littleton ( viola e violino ), Sue Havens ( acordeão e clarinete ), Tim Thomas ( piano ), Tara Jane O'Neil ( melodica ), Cynthia Nelson ( harmónica ), Bernie Worrell ( wurlitzer e moog ), Elaine Ahn ( violoncelo ), Rose Thompson ( piano ), Eddie Gormley e Hanna Fox ( percussão ) e Warn Defever ( ditafone ).

Gravado nos Dreamland Studios entre Novembro 1998 e Maio de 1999.

Fotos de Pat Graham

Design de Stacy Wakefield



Revista "Devil in the Woods" 2.2, Verão de 2000

03/05/25

Artefactos ( 140 )


Revista "Devil in the Woods" nº 2.2, Verão 2000

Inclui EP com temas de Red House Painters, Sunday's Best e Arca


29/04/25

Lost Nuggets ( 200 )


Bobby Darin "If I were a carpenter" ( Atlantic SD 8135 ), USA, 1966

- "If I were a carpenter" ( Tim Hardin )
- "Reason to believe" ( Tim Hardin )
- "Sittin' here lovin' you" ( John Sebastian )
- "Misty Roses" ( Tim Hardin )
- "Until it's time for you to go" ( Buffy St. Marie )
- "For Baby" ( H. J. Deutschendorf Jr., AKA John Denver )
- "The girl that stood beside me" ( Jeffry Stevens )
- "Red Baloon" ( Tim Hardin )
- "Amy" ( Bobby Darin )
- "Don't make promises" ( Tim Hardin )
- "Day dream" ( John Sebastian )

Condução de orquestra e arranjos de Donald Peake e Bob Halley

Produção de Charles Koppelman e Don Rubin

Capa de Remo Bramanti

28/04/25

Heroes are hard to find ( 103 )


Wizz Jones 

( 1939 - 2025 )

21/04/25

"Motor City Is Burning, A Michigan Anthology 1965-1972"

There was blues in Detroit, gospel, R&B, rock and jazz. It made more of a community - ´We’re from Detroit and proud of it´. We were part of a great community that was really unique. It didn’t really exist anywhere else. It had to do with Detroit being a factory town, being a hard-working town. This work ethic cut across to everything. The people worked hard, and they wanted to see their bands play hard. It also created an openness for the cross-pollination between black music and what we did as white rockers that didn’t exist anywhere else.” ( Wayne Kramer, MC5 ) 

No que concerne ao Michigan e à cidade de Detroit em particular, do ponto de vista musical nenhuma história ficará completa se não considerar os Funkadelic, os Detroit de Mitch Ryder e Steve Hunter, Bob Seger, Ted Nugent com os Amboy Dukes ou Stevie Wonder nas fases iniciais das respectivas carreiras. 

Logo a compilação “Motor City is burning, a Michigan Anthology 1965-1972”, onde por dificuldades de licenciamento dos direitos, aqueles nomes estão ausentes, não poderá ser considerada definitiva.

Contudo, tem os seus méritos, como de resto a maioria das colectâneas onde o nome de David Wells surge como curador e anotador. 

Wells optou por segmentar a abordagem. Assim o CD1 incide no garage/fuzz/psych, o CD2 o hard/heavy rock, enquanto o terceiro se debruça sobre o funk, o soul e zonas limítrofes. 

Daqui se infere que muito dificilmente poderia ser um trabalho homogéneo, desde logo porque uma das vertentes, o hard-rock, surge claramente datado aos ouvidos de hoje. 


Dito isto, parece razoável voltar a subdividir a compilação em três outras áreas: os clássicos, as obscuridades e as curiosidades

No que respeita aos clássicos, salientar: a versão de “I can’t get no satisfaction” dos Terry Knight and The Pack, os Scot Richard Case com “I’m so glad” tornado popular pelos Cream e Deep Purple, “1969” dos Stooges, “I’m alive” de Tommy James & The Shondells, o tema que dá título à compilação, autoria de John Lee Hooker ( mais tarde objecto de revisão algo abusiva pelos MC5 ), “Ball of Confusion” dos Temptations, “Teenage Lust” pelos MC5, “Reflections” Diana Ross & The Supremes ou “Up all night” dos SRC

Quanto às obscuridades destaque mais do que justificado para “Help me find myself” lado B do excelente e raríssimo single dos The Troyes, “Somehow” o também single dos The Thyme para a A-Square, o inédito “Outside woman blues” versão dos Felix para um tema dos Cream de “Disraeli Gears”, “Dreams selection” um título psico-prog assinado pelos Sunshine num single para a Bumpshop e “Brave new world” escrito pelos BOA para o álbum “Wrong Road”. 


No campo das curiosidades referência para “Baby won’t you let me tell you how I lost my mind” dos Spike Drivers de Ted Lucas ( mais tarde dariam origem aos excelentes Perth County Conspiracy, a versão proto-prog de “All along the watchtower” dos Savage Grace, o “Christian rock” dos Earthen Vessell, “I got a right” o primeiro tema escrito por Iggy Pop, gravado com os Stooges em 1972 e não publicado na altura, “Crumbs off the table” dos The Glass House e, a terminar, Ruth Copeland, uma expatriada de Durham no nordeste de Inglaterra com uma versão devastadora de “Gimme Shelter” que apenas não supera o original porque tal é impossível. 

Uma compilação simultaneamente uma lição de história e um paraíso para melómanos. 

Notas: 

1) A capa reproduz uma foto dos confrontos na cidade de Detroit em Julho de 1967. “Motor City is burning” de John Lee Hooker nasceu ali.

2) Eventuais interessados na temática do Detroit Sound poderão investigar “The Story of Michigan’s Legendary A-Square Records”, compilação que entre outros reúne temas dos MC5, The Scot Richard Case, The Thyme, The Prime Movers, Dick Wagner & The Frost e The Bossmen gravados para a  lendária  A-Square Records.

19/04/25

Lost Nuggets ( 199 )

 


Detroit "S/t" ( Paramount PAS 6010 ), USA, 1971

- "Long neck goose" ( Mitch Ryder, Bob Ezrin )
- "Is it you (or is it me)" ( Mitch Ryder, J. Bee )
- "It ain't easy" ( Ron Davis )
- "Rock ' n roll" ( Lou Reed )
- "Let it rock" ( E. Anderson )
- "Drink" ( M. Manko, J. Optner )
- "Box of old roses" ( W. R. Cooke )
- "I found a love" ( W. Schofield, W. Pickett, R. West )

Detroit: Mitch Ryder ( voz ), John (The Bee) Badanjek ( voz e bateria ), Dirty Ed ( congas e tamborim ), Steve (Decator Gator) Hunter ( guitarra ), W. R. Cooke ( voz e baixo ), Brett Tuggle ( guitarra ) e Harry Philips ( teclas ); com: Boot Hill ( teclas e harmónica ), John Sauter ( baixo ) e Mark Manko ( guitarra ).

Gravado no Manta Sound Studio, Toronto.

Produção de Bob Ezrin

Capa: 
Frente de Stanley Mouse. Verso: design de Bob Wilson, foto de Charles Auringer