21/04/25

"Motor City Is Burning, A Michigan Anthology 1965-1972"

There was blues in Detroit, gospel, R&B, rock and jazz. It made more of a community - ´We’re from Detroit and proud of it´. We were part of a great community that was really unique. It didn’t really exist anywhere else. It had to do with Detroit being a factory town, being a hard-working town. This work ethic cut across to everything. The people worked hard, and they wanted to see their bands play hard. It also created an openness for the cross-pollination between black music and what we did as white rockers that didn’t exist anywhere else.” ( Wayne Kramer, MC5 ) 

No que concerne ao Michigan e à cidade de Detroit em particular, do ponto de vista musical nenhuma história ficará completa se não considerar os Funkadelic, os Detroit de Mitch Ryder e Steve Hunter, Bob Seger, Ted Nugent com os Amboy Dukes ou Stevie Wonder nas fases iniciais das respectivas carreiras. 

Logo a compilação “Motor City is burning, a Michigan Anthology 1965-1972”, onde por dificuldades de licenciamento dos direitos, aqueles nomes estão ausentes, não poderá ser considerada definitiva.

Contudo, tem os seus méritos, como de resto a maioria das colectâneas onde o nome de David Wells surge como curador e anotador. 

Wells optou por segmentar a abordagem. Assim o CD1 incide no garage/fuzz/psych, o CD2 o hard/heavy rock, enquanto o terceiro se debruça sobre o funk, o soul e zonas limítrofes. 

Daqui se infere que muito dificilmente poderia ser um trabalho homogéneo, desde logo porque uma das vertentes, o hard-rock, surge claramente datado aos ouvidos de hoje. 


Dito isto, parece razoável voltar a subdividir a compilação em três outras áreas: os clássicos, as obscuridades e as curiosidades

No que respeita aos clássicos, salientar: a versão de “I can’t get no satisfaction” dos Terry Knight and The Pack, os Scot Richard Case com “I’m so glad” tornado popular pelos Cream e Deep Purple, “1969” dos Stooges, “I’m alive” de Tommy James & The Shondells, o tema que dá título à compilação, autoria de John Lee Hooker ( mais tarde objecto de revisão algo abusiva pelos MC5 ), “Ball of Confusion” dos Temptations, “Teenage Lust” pelos MC5, “Reflections” Diana Ross & The Supremes ou “Up all night” dos SRC

Quanto às obscuridades destaque mais do que justificado para “Help me find myself” lado B do excelente e raríssimo single dos The Troyes, “Somehow” o também single dos The Thyme para a A-Square, o inédito “Outside woman blues” versão dos Felix para um tema dos Cream de “Disraeli Gears”, “Dreams selection” um título psico-prog assinado pelos Sunshine num single para a Bumpshop e “Brave new world” escrito pelos BOA para o álbum “Wrong Road”. 


No campo das curiosidades referência para “Baby won’t you let me tell you how I lost my mind” dos Spike Drivers de Ted Lucas ( mais tarde dariam origem aos excelentes Perth County Conspiracy, a versão proto-prog de “All along the watchtower” dos Savage Grace, o “Christian rock” dos Earthen Vessell, “I got a right” o primeiro tema escrito por Iggy Pop, gravado com os Stooges em 1972 e não publicado na altura, “Crumbs off the table” dos The Glass House e, a terminar, Ruth Copeland, uma expatriada de Durham no nordeste de Inglaterra com uma versão devastadora de “Gimme Shelter” que apenas não supera o original porque tal é impossível. 

Uma compilação simultaneamente uma lição de história e um paraíso para melómanos. 

Notas: 

1) A capa reproduz uma foto dos confrontos na cidade de Detroit em Julho de 1967. “Motor City is burning” de John Lee Hooker nasceu ali.

2) Eventuais interessados na temática do Detroit Sound poderão investigar “The Story of Michigan’s Legendary A-Square Records”, compilação que entre outros reúne temas dos MC5, The Scot Richard Case, The Thyme, The Prime Movers, Dick Wagner & The Frost e The Bossmen gravados para a  lendária  A-Square Records.