30/07/24

Jardins do Paraíso ( 85 )

 


Como Fred Neil, Scott Walker, Phil Ochs ou Tim Buckley, Tim Hollier possuía uma daquelas vozes “larger than life”, um instrumento adicional que de forma quase cinematográfica coloria as suas melodias e projectava os textos de Rory Fellowes.

Message to a Harlequim”, o primeiro álbum é muito isso, mais o que somam os arranjos, órgão e piano de John Cameron, a flauta de Harold McNair e o baixo de Danny Thompson.

Alicerçada em temas como o que titula o álbum, “Jimmy”, “And I”, “Hanne” ou “In Silence”,  e face ao que neles se escuta, a estreia de Hollier terá de ser analisada à luz daquela sonoridade épica e paisagística que bordejava o primeiro de David Ackles, o segundo de Buckley ou os primeiros álbuns de Tom Rush e Tim Hardin.

Prometia muito e hoje, à distância de cinco décadas, conclui-se que cumpriu sem rebuço nem hesitação. Porém, Hollier não era americano e o Reino Unido estava a despedir-se do psicadelismo em direcção ao progressivo. Não havia espaço para trovadores dos sentidos. O álbum, publicado em Outubro de 1968, passou largamente incógnito.

David Hemmings seria todavia premonitório ao escrever as notas na contracapa do disco: “… if he is your speed you will be waiting impatiently as I am for his next.”



Na verdade, abrindo com o fantástico “Seagull’s Song”, “Tim Hollier”, o segundo álbum, percorre outros caminhos, não necessariamente menos estimulantes para quem o escuta.

Um clássico do primeiro ao último tema, passando pela capa ( da autoria de Rick Cuff, também responsável pela guitarra acústica e piano ) “Tim Hollier” é um trabalho cuidado, frágil na estrutura e nos processos, mas que avaliado pelo todo se posiciona como um dos grandes discos de 1970.

John Cameron não estava disponível, logo os arranjos de cordas que pululavam no álbum anterior estão ausentes. Nada que afecte o resultado final. A escrita e a composição, partilhadas entre Tim Hollier / Amory Kane / Rory Fellowes, são acomodadas pelo já referido acompanhamento de Cuff, a que se juntam a flauta de Ed Coleman, a guitarra de Hector Sepúlveda, e a voz, piano e guitarra acústica de Amory Kane.

“Seagull’s Song” é extraordinário, como o são também “Evolution”, “Maybe you will stay“, “In this room” ou “Evening Song”.

A influência de Tim Buckley, omnipresente no álbum estreia, partilha agora o espaço com o paradigma sonoro Donovan, o que não é de todo uma má notícia.



Tal como o anterior, “Tim Hollier” não conheceu adesão significativa, apesar de Hollier ser ter esforçado por divulgá-lo ao partilhar os palcos com Joe Cocker, Nick Drake, David McWilliams, David Bowie e Third Ear Band.

Fevereiro de 1971, “Skysail”. As orquestrações de John Cameron estão de volta. Seria suposto terem algum protagonismo, harmonizando o resultado final. Nada disso  acontece porém. Genericamente, a qualidade/consistência dos temas está muito aquém do esperado ( recomendado ).

Skysail” é lamentavelmente um equívoco, difícil de compreender tendo em conta o que nos aportaram os dois discos anteriores.

Time has a way of losing you, The Tim Hollier Anthology” inclui ainda dez versões oriundas de sessões na BBC e os dois temas do single “The Circle Is Small”,  nenhum deles verdadeiramente inesquecível.