Inclassificável! O adjectivo que ocorre a propósito de “On a
day of crystaline thought”.
Ao longo dos anos, uma certa aura lendária precedeu este raríssimo
disco do nova-iorquino Pete Fine. Foi sucessivamente catalogado como se tratando
de uma obra conceptual de “acid folk”, “spaced psych”, “hippie rag”, “classical
prog” … Não sendo nada disso é tudo isso,
em simultâneo.
Pete Fine vinha dos Flow, cujo álbum “Greatest Hits” ( 1972 )
estabeleceu pontes entre o estertor do “hard-psych” e o percurso do glam-rock
nova-iorquino em direcção ao germinar do “punk rock”, o qual havia de assenhorear-se
da cidade um par de anos adiante.
“I had been listening to a lot of classical music at the same
time that I was in Flow. I wrote the pieces for small orchestra and put an ad
in the newspaper for musicians”.
O resultado chamou-se “Crystalline Thought” e foi materializado
em 1974 através de uma edição privada de 100 exemplares, agora objecto de oportuna reedição.
Nos Sound Exchange Studios em Nova Iorque, Fine começou por
gravar as partes da sua guitarra 12
cordas. A partir daí foi acrescentando camadas: instrumentos ( baixo, bateria,
flauta, guitarra eléctrica ), vozes ( uma nota para a participação da vocalista
Sam Hardesty ) e as componentes da orquestra ( violoncelos, violinos e trompas
).
“New York was very creative in those days. Many bands existed
who were great musicians and doing unique types of rock and rol. It wasn’t the stereotype
rock we have today which doesn’t change except every ten years.”
As duas suites que preenchem o lado A ( “On a day of crystalline
thought” e “Sunrise” ) justificam e merecem a maior atenção, sendo superiores
aos quatro títulos que preenchem o lado complementar.
Ainda que esta nuance seja indesmentível, existe no álbum uma
harmonia fora do comum e uma atmosfera única que inevitavelmente nos convida a
procurar referências noutras latitudes. Tarefa difícil e à partida condenada ao
fracasso, pois “On a day of crystalline thought” é absolutamente único.