“I got really fed up with going to concerts where 95
per cent of the audience were Christians. I felt I was preaching to the
converted. I felt as if they were saying that Christian musicians couldn’t
compete with their secular counterparts” ( Judy MacKenzie )
Não conhecendo embora a projecção e a importância da sua
congénere norte-americana, a música britânica de inspiração cristã dos finais
dos 60s inicio dos 70s do século XX, teve os seus momentos, episódios
marcantes, editoras e nomes a reter.
Muito para além e anos antes das performances teatrais de
“Jesus Christ Superstar” ou “Godspell” já os artistas cristãos tinham ganho o
seu espaço no Reino Unido e não apenas via música folk ( aparentemente a opção
mais fácil e óbvia ). Imbuídos do espírito que presidia às iniciativas do
Salvation Army, versões litúrgicas do gospel, do blues e até do rock, preencheram
o epicentro do movimento.
É neste borbulhante caldeirão que se movimentam militantes
como Judy MacKenzie, John Pantry, Out Of Darkness, Parchment, Whispers of
Truth, All Things New, The Pilgrims ou Roger & Jan. Espiritualistas “à la
carte” e passageiros ocasionais também os houve como o comprovam as incursões
de nomes como Alan Hull ( Lindisfarne ), Quintessence, Magna Carta, The Johnstons,
Kevin Coyne, Bill Fay, Jethro Tull,
Strawbs, Nirvana, ou Mellow Candle entre muitos outros.
As motivações essas naturalmente divergiam. Não é crível por
exemplo que as intenções de Ian Anderson quando escreveu “My God” para
“Aqualung” fossem passíveis de encontrar paralelo nos Out Of Darkness quando
criaram “On Solid Rock” ou nos Quintessence quando gravaram “Jesus my life”.
“All God’s Children, Songs from The British Jesus Rock
Revolution 1967-1974” – cujo título se inspira no conhecido tema dos Kinks
“God’s Children”, o qual verdade seja dita tinha pouco de evangélico e muito de
metafórico - procura ilustrar o
movimento e a época. E é importante não apenas na vertente estritamente musical,
mas também no enquadramento social que a originou.
Como todas as compilações pensadas e “desenhadas” por David
Wells é brilhante, ainda que no caso concreto o advérbio “quase” persista em
reivindicar a sua presença.
“Prelude” dos Salamander é a abertura celestial, impossível
de ignorar; a fórmula Cream dos Out Of Darkness é convincente para além de
eloquente; “The man who called himself Jesus” era impossível de ignorar; o
mesmo sucede com “To be a Pilgrim”, “Jesus” “Stories of Jesus”, “Three
Crosses”, “New Song”, “Son of God”, ou “Jesus come back”, respectivamente de Gerald Moore, Wil Malone, Clive Palmer, Roger &
Jan, Judy MacKenzie, Parchment e Ramases.
Com estes coexistem Cavalos de Tróia, como a versão de “Jesus
is just alright” dos Bourbon Street Mission ( um colectivo criado pelo produtor
Sandy Roberton e cuja memória ainda hoje deve causar pesadelos à cantora
escocesa Shelagh McDonald por ter participado no coisa ), “Prayer” dos Manfred
Mann’s Earth Band ou a inenarrável
versão de “Jesus Cristo” ( Roberto Carlos lembram-se? ) pelos Fickle Pickle.
Contas feitas, “All God’s Children” é, para além de recuperar
e retratar um movimento e uma época historicamente importante, um verdadeiro
entretenimento.