31/01/23

Please "Seeing Stars"

 


Num mundo mais justo, Peter Dunton deveria receber o mesmo reconhecimento atribuído a alguns  nomes da primeira liga de Canterbuty;  Caravan, Camel e Soft Machine à cabeça.

Musicalmente inspirado como Kevin Ayers, vocalmente melancólico como  Robert Wyatt, instrumentista dotado como Peter Bardens, Dunton é apenas reverenciado nas margens do underground britânico do inicio dos 70s à boleia de  “It’ll all work out in boomland” a obra prima que assinou com os T2.

Para além daqueles, Dunton esteve na origem de bandas como Neon Pearl, Gun, Flies ou Morning e, como um genial semi-desconhecido, deixou um património musical largamente por explorar.

“Seeing Stars”, gravado entre Setembro e Outubro de 1969 nos Marquee Studios em Londres ( Dunton encarrega-se da voz, teclas e bateria; Bernie Jinks do baixo e Nick Spenser da guitarra ) é apenas e só mais um clássico da cena psico/progressiva do underground britânico do final dos 60s. Negligenciado é verdade, mas não deixa por isso de ser um clássico.




Não existe nele nenhum desequilíbrio, nenhum tema que destoe e que nos dê vontade de passar à frente, hipnotizados que estamos por aquela voz triste e melancólica, por aquele órgão que ora lembra o melhor dos Caravan ora o experimentalismo de Mike Ratledge nos Soft Machine.

Desta forma torna-se difícil, diria quase impossível, evidenciar um ou mais temas ante a harmonia que o conjunto revela.

Ainda assim, não deixem de escutar o tema título, “Words to say”, “Time goes by” ou “Still dreaming”, composições onde o órgão bordeja o celestial e que, curiosamente ou talvez não, induzem a um paralelismo com a auto-harpa de Bill Miller em “Dark Shadows”, esse outro clássico de psicadelismo assinado pelos Cold Sun.

Em 1973, Peter Dunton gravaria para a RCA um álbum a solo que permanece inédito até à data. O single “Taking time / Still confused” contém os dois únicos temas a emergir dessas sessões.