10/11/22

Jardins do Paraíso ( 78 )

 


“In the autumn of 1970, Bachdenkel were dubbed ‘Britain’s Greatest Unknown Band’ by Mark Williams ( formerly the editor of Musicit, the music section of International Times ) in his short-lived British fortnight music paper Strange Days. A mere 52 years later, that’s sadly still a pretty accurate assessment of a band who remain an obscure cult attraction rather than enjoying  the household name status that their undoubted talents surely merited. A West Midlands outfit who failed to release an album at home in their ten year existence.” ( David Wells, in BachdenkelRise and fall, The Anthology” ).

A arquitectura sonora dos Bachdenkel, uma banda oriunda de Birmingham, constituía uma anomalia, mesmo considerando os padrões experimentalistas da época: 1970.

Não cortejava apenas o psicadélico, não revisitava o blues rock, não prospectava no tubo de ensaio do progressivo e, no entanto, agregava todos aqueles elementos em simultâneo, alicerçando-os numa intensidade e talento verdadeiramente incomuns. A dinâmica deliberadamente lenta, por vezes algo marcial, leia-se negra, também pouco ajudaram à popularidade.

Não espanta pois que “Lemmings” o álbum que gravaram em 1970 tenha levado três anos a ser publicado e apenas em França, nos idos de Maio de 1973.


Escutado agora, face aos conhecimentos que acumulámos, há que convir que em “Lemmings” vive um álbum absolutamente extraordinário. Denso e subtil em partes iguais, tremendamente aditivo e, não será exagero afirmar, influenciador de muitos dos mais atentos “bons esprits” que anos mais tarde percorreriam os trilhos perdidos do pós-punk e, espantemo-nos, do pós-rock.

A cada um, “Lemmings” soará de acordo com gostos e, naturalmente, vivências pessoais. Mas quando se escuta o riff de “An appointment with the master” é impossível não pensar imediatamente em Adrian Borland e no fantástico “Winning”, tema que concebeu para os Sound de “From the lions mouth”. Da mesma forma que muito da rítmica marcial e da sonoridade sépia do álbum nos remete para o percurso juvenil dos Comsat Angels. Pode até parecer estranho, concedo, mas a intervenção marcadamente labiríntica das guitarras ( “Translation”, “Equals”, “Donna” ) traz de volta o encantatório paradigma sonoro dos Explosions In The Sky.



“Lemmings” não faz com toda a certeza o pleno junto das maiorias. Será porém indesmentível que corporiza sem a mínima dúvida um dos trabalhos mais injustiçados do rock inglês do inicio dos 70s.

Rise and fall, The Anthology”, volvidos muitos ( demasiados ) bootlegs ao longo dos anos, é a reedição perfeita. Inclui o segundo álbum “Stalingrad” ( 1977 ) e uma profusão de demos e raridades gravadas entre 1967 e 1982. Deixam portanto de existir razões para a lendária obscuridade.