Existem diversas compilações ilustrando a música feita em Los
Angeles no período áureo dos 60s, quando o respectivo paradigma artístico
rivalizava com a mais florida e etérea cena de São Francisco.
Uma das mais aturadas e criteriosas é “Where The Action is!
1965 Los Angeles Nuggets 1968” datada de 2009 e produzida pelos insuspeitos
Andrew Sandoval, Alec Palao e Cheryl Pawelski.
Mas o tema, longe de ser consensual, seja do ponto de vista
musical, histórico ou sociológico, presta-se sempre a revisitações e,
dependendo do curador, umas mais conseguidas que outras.
A mais recente dá pelo nome de “Heroes and Villains, The Sounds of Los Angeles 1965-68” e tem a marca competente e diferenciada do historiador David Wells.
E se “Where the Action is!”, à data incluindo apenas 3 temas
inéditos ( Stephen Stills & Richie Furay, Tim Buckley e Tommy Boyce &
Bobby Hart ), era uma espécie de parente próximo da lendária criação de Lenny
Kaye “Nuggets, Original Artyfacts from
the First Psychedelic Era 1965-1968”, “Heroes and Villains”, longe de descurar
os inéditos ( 16 num total de 90 títulos ) procura enquadrar a criação musical
nos acontecimentos históricos e artísticos que a cidade e arredores ( Laurel
Canyon sobretudo ) viviam na época:
“Before 1969, my memories were nothing but fun and
excitement and shooting to the top of the charts and loving every minute of it.
The Manson murders ruined the LA music scene. That was the nail in the coffin
of the freewheeling, let’s get high, everybody welcome, come on in, sit right
down. Everybody was terrified. I carried a gun in my purse. And i never invited
anybody over to my house again” ( Michelle Phillips, The Mamas and The
Papas ).
Ademais e concretizando: onde será possível encontrar as esquizofrénicas composições de Captain Beefheart e Mothers of Invention? Ou uma versão de “Windy” pela respectiva autora (Ruthann Friedman), um ano após o tema ter resgatado os Association do anonimato? Ou um inédito dylanesco, “The Wind Blows Your Hair por uns insuspeitos The Seeds? Ou um outro inédito e percursor “Computer Girl” gravado em 67 pelos Urban Renewal Project liderados por um jovem Russ Mael que anos mais tarde os Sparks imortalizaram? Ou um “Long time” escrito por Gene Clark e oferecido aos Rose Garden? Ou uma primeira versão de “Why” de David Crosby gravada pelos Byrds nos estúdios de RCA em Sunset Boulevard e cujas fitas foram recusadas pela Columbia, que obrigou a banda a regravar o tema nos seus próprios estúdios? Ou ainda uma versão de “Road to Nowhere” assinada pela dupla Goffin/King e interpretada pelos Hearts & Flowers uma das primeiras bandas de Bernie Leadon?
Poderíamos sempre continuar pois o filão não apenas parece; é verdadeira e compulsivamente inesgotável. “Heroes and Villains” é por isso uma edição marcante. Vai muito para além do tempo que os seus 90 temas demoram a escutar. As enciclopédicas notas que ilustram cada um deles, obrigam-nos a parar e a verificar cada detalhe, cada informação aduzida. Muita da qual, sobranceiramente afinal, julgávamos já conhecer.
Numa palavra: puro serviço público!