25/10/21

Jardins do Paraíso ( LXX )

 


Uma absoluta barbaridade, o índice de talento que a foto acima, captada por Jim Marshall em 1970, encerra.

Volvidos 50 anos, a conjugação daqueles e de outros talentos ( não menos despiciendos note-se ) continua a fazer de “If I could only remember my name” um lugar único e irrepetível. Um disco que separa as águas e que diz muito sobre os seus indefectíveis e, quase tudo, sobre os seus detractores.

Música intensa, visceral, orgânica e, se quiserem, concedo, vizinha do improviso. Uma das alegadas facetas que mais parece incomodar os fãs da pop music fofinha.

Deve muito, embora não tudo, ao seu principal mentor e compositor  David Crosby.

Para além dele e dos restantes protagonistas da foto mencionada ( Jerry Garcia, Neil Young e Phil Lesh ) convirá não esquecer os demais: Grace Slick, Jorma Kaukonen, Paul Kantner, Joni Mitchell, Gregg Rolie, Laura Allen, Graham Nash, Bill Kreutzmann, Michael Shrieve, Jack Casady, David Freiberg  e Mickey Hart, sem o contributo dos quais o álbum talvez não tivesse sustentado a intemporal dimensão de que goza há cinco décadas.

Dito de outra forma, existe um antes e um depois de “If I could only remember my name”, ponto!



( foto de Joel Bernstein )

Perguntarão: mas depois de tanto tempo e de algumas recuperações, quer sobre a forma de reedição ou a propósito de uma ou outra compilação, ainda existe espaço para uma nova edição? Existe, de facto, e a explicação reside nas 8 demos e 5 sessões que acompanham os 9 temas originais ( o título “Kids and dogs” não entra na equação uma vez que já havia sido publicado numa reedição em 2006 ).

Escutam-se as demos ( voz e guitarra acústica ) de “Laughing”, “Song with no words”, Tamalpais High (All about 3), “Games”, “The wall song” ou “Where will I be?” ( as três últimas abandonadas neste projecto mas recuperadas no ano seguinte para o álbum “David Crosby / Graham Nash ) e aquilata-se do quão enorme era o talento do autor, independentemente do ângulo escolhido para a abordagem. Uma voz inigualável, harmonias e arranjos vocais pioneiros, atonalidade de muitas composições e uma sensibilidade interpretativa verdadeiramente incomum.

Quanto às sessões, e colocando de lado a versão alternativa de “Cowboy Movie” já  publicada em 2006 na box-set “Voyage”, destaque para um extraordinário “Coast Road” que não teria destoado no álbum original, bem assim como para as maquetas “Bach Mode”, “Dancer” e “Fugue”, vozes e guitarra acústica, sempre.

Cinco décadas passadas, pouco interessarão os contornos actuais da personagem de Crosby. Incongruências, equívocos, atitudes fora da caixa, quezílias com os antigos companheiros, ainda que reveladoras do carácter, são nada ou muito pouco quando comparadas com a grandeza que “If I could only remember my name” transporta no tempo.