Uma absoluta barbaridade, o índice de talento que a foto
acima, captada por Jim Marshall em 1970, encerra.
Volvidos 50 anos, a conjugação daqueles e de outros talentos (
não menos despiciendos note-se ) continua a fazer de “If I could only remember my
name” um lugar único e irrepetível. Um disco que separa as águas e que diz muito
sobre os seus indefectíveis e, quase tudo, sobre os seus detractores.
Música intensa, visceral, orgânica e, se quiserem, concedo,
vizinha do improviso. Uma das alegadas facetas que mais parece incomodar os fãs
da pop music fofinha.
Deve muito, embora não tudo, ao seu principal mentor e compositor
– David Crosby.
Para além dele e dos restantes protagonistas da foto
mencionada ( Jerry Garcia, Neil Young e Phil Lesh ) convirá não esquecer os
demais: Grace Slick, Jorma Kaukonen, Paul Kantner, Joni Mitchell, Gregg Rolie,
Laura Allen, Graham Nash, Bill Kreutzmann, Michael Shrieve, Jack Casady, David
Freiberg e Mickey Hart, sem o contributo
dos quais o álbum talvez não tivesse sustentado a intemporal dimensão de que
goza há cinco décadas.
Dito de outra forma, existe um antes e um depois de “If I
could only remember my name”, ponto!
Perguntarão: mas depois de tanto tempo e de algumas
recuperações, quer sobre a forma de reedição ou a propósito de uma ou outra
compilação, ainda existe espaço para uma nova edição? Existe, de facto, e a
explicação reside nas 8 demos e 5 sessões que acompanham os 9 temas originais (
o título “Kids and dogs” não entra na equação uma vez que já havia sido publicado
numa reedição em 2006 ).
Escutam-se as demos ( voz e guitarra acústica ) de “Laughing”,
“Song with no words”, Tamalpais High (All about 3), “Games”, “The wall song” ou
“Where will I be?” ( as três últimas abandonadas neste projecto mas recuperadas
no ano seguinte para o álbum “David Crosby / Graham Nash” ) e aquilata-se do
quão enorme era o talento do autor, independentemente do ângulo escolhido para
a abordagem. Uma voz inigualável, harmonias e arranjos vocais pioneiros,
atonalidade de muitas composições e uma sensibilidade interpretativa verdadeiramente
incomum.
Quanto às sessões, e colocando de lado a versão alternativa
de “Cowboy Movie” já publicada em 2006
na box-set “Voyage”, destaque para um extraordinário “Coast Road” que não teria
destoado no álbum original, bem assim como para as maquetas “Bach Mode”, “Dancer”
e “Fugue”, vozes e guitarra acústica, sempre.
Cinco décadas passadas, pouco interessarão os contornos
actuais da personagem de Crosby. Incongruências, equívocos, atitudes fora da
caixa, quezílias com os antigos companheiros, ainda que reveladoras do carácter, são nada ou muito pouco quando comparadas com a grandeza que “If I
could only remember my name” transporta no tempo.