Depois do desaparecimento de Jack Rose, Nathan Bowles
é hoje olhado por muitos como o “maverick” da chamada “american primitive guitar music”.
Glenn Jones é excelente, mas “sofisticado”; William Tyler joga nos “sub 21”; Jack Fussell nos juniores e Daniel Bachman ainda tem muitos frangos
para virar. Bowles por seu lado tem quase tudo o que Rose tinha, excepto,
talvez, o apetite pelo bourbon.
Militou no colectivo Pelt
( tal como Jack Rose ), andou pelos Pigeons e pelos appalachianos Black Twig Pickers. Actualmente integra
a banda de suporte de Steve Gunn,
com o qual já gravou dois álbuns soberbos.
Depois de “Nansemond” em 2014, “Whole
& Cloven” é o novo disco para a editora da Carolina do Norte
Paradise of Bachelors. E tem dentro tudo o que nesta altura se poderia esperar
de Nathan Bowles. A sonoridade inóspita que os vales das Blue Ridge Mountains albergam,
a vertigem desafiadora que só os Appalaches propiciam, a desconstrução da
música tradicional que os Black Twig Pickers perseguem a cada prestação e,
claro, o virtuosismo de um instrumentista notável que, como poucos, utiliza
banjo e guitarra acústica para dar som à iconoclastia.
“Gadarene Fugue” é um carrocel acústico que, entre o banjo, a
guitarra e uma percussão primitiva, recua até um pretérito quase perfeito que,
entre outras coisas, nos deixou “Deliverance”, o emblemático filme de
John Boorman. Em “Chiaroscuro”,
sensorial, o piano substitui os instrumentos presentes no tema anterior, mas é
igualmente avassalador na interacção que estabelece com o ouvinte.
“Blank Range: Hog Jank II” e “I miss my dog” regressam ao
banjo appalachiano e caso fossem vocalizados por Steve Gunn poderiam ter sido
incluídos no álbum que gravou com Black Twig Pickers. “Moonshine is the sunshine”
( uma versão do esquecido Jeffrey Cain
) e “Burnt Ends Rag” ( inspirado em Jack Rose ) encerram um disco que, juntando
o melhor de dois mundos maravilhosos – “american primitive guitar” e o
“avant-garde” –, se encontra muito perto da perfeição.