Do passado, continuam a emergir pérolas que o tempo não
diminuiu; do presente saltam todos os dias momentos gloriosos a que importa dar
atenção, hoje.
Vem isto a propósito de “Grapes” e de Mark Alexander McIntyre.
Natural de British Columbia, Canadá,
McIntyre tocou num largo número de bandas em redor de Otava e, para além de “Grapes”,
tem já no curriculum mais dois álbuns: “Cold coffee and Sally boots”
( 2009 ) e “Situs Inversus Total” ( 2010 ), ambos também em formato de
vinil.
O mais recente é um disco extraordinário, seja qual for a
perspectiva por que se aborde. O mais lo-fi que se possa imaginar ( tape
machine, guitarra acústica, órgão e bateria avulsos ), quanto à forma e estrutura
lembra o primeiro Palace Brothers. Vai contudo
muito mais além e o rasto de desolação que resulta de um cruel relatar
dos factos do quotidiano chega a ser incomodativo.
Imaginem as tardes mais sombrias de Johnny Cash, Epic
Soundtracks, Nick Cave, Warren Zevon ou Mark Jeffrey e estão quase lá. David
Foster Wallace é também uma referência óbvia quando se escutam as tumultuosas histórias
que passam por “The dying sun”, “Charlie’s Blues”, “A life of bad luck” ou pelo
distúrbio sonoro que é “A birth, a death, the dark and the light”.
Mas apesar disso, talvez por causa disso, “Grapes”
possui uma dimensão enorme. Permanece, até muito tempo depois dos últimos
acordes do genial “Caugh and Hung” se terem desvanecido. A melhor coisa que
2014 nos trouxe. Mais cedo ou mais tarde, a história voltará a “Grapes”.
Melhor portanto jogar na antecipação.