Serão personalidades diferentes, com percursos de vida
diversos, eventualmente com raízes e motivações culturais díspares. No entanto,
sempre que penso em Grant Hart e Lee Ranaldo, quase instintivamente,
estabeleço entre eles um paralelismo que
poderá muito bem ser apenas ficcional, mas que no ponto de vista do Atalho faz
sentido.
Ambos integraram duas das mais histriónicas bandas do
indie-rock americano dos 80s. Husker Du
( Grant Hart ), Sonic Youth ( Lee
Ranaldo ). Do ponto de vista da imagem, ambos viveram sempre na sombra ditatorial
dos líderes: Bob Mould na primeira, Thurston Moore na segunda. Mas, mais importante, diria, ambos promoveram
o equilíbrio necessário para que os dois projectos pudessem carburar sem
sobressaltos de maior. Porque ambos são belíssimos melodistas e as respectivas composições,
serviam de âncora perante a loucura atonal de Thurston Moore e a espiral
apunkalhada de Bob Mould. Volvidos todos
estes anos, quando retorno a Husker Du ou Sonic Youth, são as canções que Hart
e Ranaldo que procuro, quase exclusivamente.
Ranaldo diversificou o seu caminho. Nova Iorque permitiu-lhe
isso. Grant Hart tem tido um percurso mais atribulado. Depois de um fabuloso
álbum solo “Intolerance” ( 1989 ), o projecto Nova Mob foi um semi fracasso e os posteriores trabalhos a solo
balançam entre o urgente e o fica para depois.
“The Argument” partia como um desafio ambicioso. Inspirado em “Lost
Paradise”, um manuscrito inédito de William
Burroughs por sua vez inspirado em “Paradise Lost” de John Milton, reunia as condições mínimas para fazer história, mesmo
considerando que os “concept álbuns” nem sempre são o que prometem. Havia no entanto um pormenor, nada
despiciendo por sinal: a música!
Aqui chegados, tiro o chapéu a todos os que conseguirem
despir a pele do fã e usar exclusivamente a (in)sensibilidade do crítico.
Gostaria de ser totalmente objectivo. Mas quando comparo ( e há sempre que
comparar, mesmo que toda a gente diga o contrário ) estes 20 temas com as
enormes canções que Grant Hart escreveu no passado, não é possível disfarçar a decepção. Sim, “Morningstar”,
“Is the sky the limit?” e “I will never see my home” estão perto do sublime e
farão facilmente parte do songbook do autor, mas quase tudo fica aquém do que
Hart já fez e seguramente poderá voltar a fazer. Há inclusive, diversos painéis
bowieanos que a mim me soam camaleónicos e desadequados.
Dito isto, gostaria de ter sido mais positivo, mas a mais pura da verdade é que escutar “The Argument” me foi algo penoso. Talvez volte a ele, daqui a uns meses. Quem sabe?
Dito isto, gostaria de ter sido mais positivo, mas a mais pura da verdade é que escutar “The Argument” me foi algo penoso. Talvez volte a ele, daqui a uns meses. Quem sabe?