Muito embora separadas em longitude, nunca Manchester e
Nashvile estiveram tão próximas; através da música dos Hollow Ox. A ideia tinha já ficado mais ou menos latente no inicio de
2009 quando a banda de Cole Street publicou “Pleiades”. “Sunya”
acabado de publicar ( http://hollowox.bandcamp.com ) em formato digital e a aguardar a edição
física em cd confirma e sublinha aquela asserção.
Poderemos nem sequer estar a falar de uma opção. Poderá muito
bem tratar-se de uma mera coincidência, mas para quem como o Atalho procura
conhecer o passado para melhor compreender o presente, aquilo que se escuta em “Sunya”,
e que é muito bom, não permite ignorar os sons do pós-punk e os ecos da
Manchester do inicio dos 80s. É de facto uma condicionante óbvia para quem
escreve estas linhas, agravada pelas memórias recônditas e agora recuperadas dos
concertos a que assisti, designadamente de
Vini Reilly e dos Chameleons.
“Pleiades” foi como que uma pedrada no charco ( http://atalhodesons.blogspot.pt/2009/08/hollow-ox-pleiades.html
). Surpreendeu-me e muito. Coisa já rara nos tempos que correm. À componente
orgânica, adicionava uma faceta cósmica que porventura foi procurar a
respectiva identidade à kosmische musik e/ou a projectos instrumentais mais
recentes como Stars of Lid ou Windy & Carl.
Conjecturas de lado, a verdade dos factos obriga a dizer que “Sunya”,
ainda que não possuindo a intensidade épica de “Pleiades” se revela um
magnífico “follow up”; ou dito de outra maneira supera o sempre difícil teste
do “segundo disco”. Oito temas, o mais longo dura 9m 55s, o mais curto 5m 22s. A
tudo o que atrás foi dito, e que para quem conhece os nomes referidos
facilmente entenderá que falamos de guitarras que se expressam lentamente mas
com tremenda veemência, haverá que juntar uma outra forma de expressão: um subtil
feedback, aqui e ali, ainda demasiado envergonhado, diria.
“Sunya” tem alma. E grande. É inteligente, planante, pós-rock
quanto baste ( vidé o tema de abertura “Title”
), utiliza as vozes com parcimónia – como se de mais um instrumento se tratasse
-, e é sobretudo muito eficaz na dependência que provoca no ouvinte. Aparenta
ser inofensivo nas primeiras audições, torna-se aditivo a partir do momento em
que estas se vão acumulando. E no final, depois de conhecermos todos os ângulos
que estas guitarras a um tempo serenas e urgentes desenham, encontramos um
horizonte que para além de belo é sobretudo lírico.
O cd, logo que publicado, irá ser um excelente companheiro de
caminhada. O que para o Atalho é dizer muito.
Ps: com um
agradecimento especial a Cole Street.