E nunca se pode dizer nunca que já se ouviu tudo.
Na verdade, quando se pensava que havia sido dito tudo, escrito e ouvido sobre o psicadelismo californiano,
eis que surge “Family Evil”.
E voltamos ao principio. Que é como quem diz, aos mid-sixties.
Crystal Syphon, uma banda originária de Merced,
California, esteve activa entre 1965 e 1970. Não obstante, até há poucos meses era
totalmente desconhecida dos amantes do psicadelismo californiano, nunca tendo
sido tão pouco mencionada em nenhuma das enciclopédias do género. ”Family evil” é no entanto a prova
cabal de que em história não é uma ciência exacta e muito menos definitiva.
Mais de quatro décadas depois de terem sido escritos e registados,
ao escutar os 10 temas que integram a primeira e última ( julgamos ) edição dos
Crystal Syphon, questionamo-nos
sobre o que poderia ter acontecido à época caso esta banda tivesse recebido o
apoio de uma editora e/ou os favores da imprensa/público.
Partilhar os palcos com os Grateful Dead, Quicksilver,
Country Joe & The Fish, Big Brother & The Holding Company, Buffalo Springfield, Creedence, Santana ou Lee Michaels, não terá sido ao que parece
suficiente e os Syphon nunca usufruiram dos seus 15 minutos de fama.
Desaparecem nos radares em meados de 1970.
Nascidas no período compreendido entre 1967 e 1968, estas
canções são do melhor e mais genuíno que o paradigma californiano produziu na
época. Se se partir para a audição de “Family
Evil” sem preconceitos e com a mente aberta, torna-se evidente e fácil
de perceber que qualquer uma destas canções poderia e deveria ter constituído
um ex-libris da música californiana.
“Marcy, your eyes” a abrir, ostenta um insidioso riff de
guitarra pairando como um falcão sobre um órgão hipnótico. Os Brogues ou os Savage Resurrection não fizeram melhor. “Paradise” e “Have more of
everything”, são os Jefferson Airplane de “Crown of Creation” sem Grace
Slick e com Tom Salles a fazer de Jorma Kaukonen. “Try something different” ecoa
uma melodia de Randy California para o primeiro álbum dos Spirit, as harmonias vocais repousando sobre um baixo em registo solo,
mais Phil Lesh que Jack Casidy. “Fuzzy and Jose” e “Family Evil” ( o tema ) são jams psicadélicas do género Quicksilver Messenger Service “meets” Airplane,
para as quais até o (bom) fantasma de John Cipollina parece ter sido convocado.
“Are you dead yet” é a necessária “garage song”, enquanto “In my mind” oferece um
dos mais cristalinos intro de guitarra californiana da época. “Fails to shine” sugere o edifício musical
aparentemente desconexo que foi a imagem de marca dos Mad River. A terminar os fabulosos 6m e 56s de “Winter is Cold” oferecem-nos
um bilhete apenas de ida para o nirvana do psych-rock, exactamente no momento do
apogeu do respectivo processo evolutivo.
O Atalho reconhece o porventura excessivo entusiasmo deste
texto, penitencia-se pela profusão das hipérboles, mas a verdade verdadinha é que
desde há muitos anos não recordo ter-me
divertido tanto ao escutar um álbum oriundo da Califórnia.
“Family Evil” é o meu disco do ano. Seja lá o que isso possa valer.
Ps: de acordo com informação prestada ao Atalho por Bob Greenlee, baixista da banda, existem várias gravações de concertos no Fillmore West. Estão em processo de remasterização e muito provavelmente verão a luz do dia em 2013. Mais uma boa notícia.
“Family Evil” é o meu disco do ano. Seja lá o que isso possa valer.
Ps: de acordo com informação prestada ao Atalho por Bob Greenlee, baixista da banda, existem várias gravações de concertos no Fillmore West. Estão em processo de remasterização e muito provavelmente verão a luz do dia em 2013. Mais uma boa notícia.