Ali, à saída da adolescência, a juventude é habitualmente um
espaço onde florescem arrogância e preconceitos vários, alguns de natureza quase
tribal. Comigo não foi naturalmente diferente.
Em concreto, hoje lamento não ter na devida altura prestado atenção
a bandas e artistas, fulcrais no seu tempo, mas cuja atitude e forma exibicionistas
a par de uma massiva adesão por parte do público, “valorizei” mais que o respectivo
conteúdo. Black Sabbath e Led Zeppelin são apenas dois dos vários casos. Mas há mais. “Tubular Bells”
por exemplo.
Quase 40 anos depois e muitos kms de vinilo percorridos, olho
para o épico de Mike Oldfield de uma forma totalmente diferente. Já não é apenas
um mastodôntico êxito de vendas, antes uma interessante peça musical, construída
instrumento a instrumento, camada a camada, até desaguar num climax apoteótico,
quase cinemático.
Vem tudo isto a (des)propósito do novo MONO, “For my parents”. Hoje, o
chamado “post-rock” é quase tão polémico quanto o foi todo o movimento que gerou peças como “Tubular Bells”, contudo
não me parece que a sublime música criada pelo colectivo de Tokyo possa (deva)
ser enclausurada num qualquer colete de forças estético que obrigatoriamente a
menorizaria e tornaria redutora.
Goste-se ou não, a música dos MONO é algo de grandioso – bigger than life – possui um lirismo e
um sentimento que não se compaginam com o estereotipo musical contemporâneo,
por mais alargada e esforçada que a busca possa ser. As respectivas prestações
de palco são algo de verdadeiramente especial, momentos únicos que “dão sentido
à vida” de quem a elas assiste. Se o quarteto voltar a Portugal aproveitem para
tirar as dúvidas…
No entretanto investiguem as cinco peças que integram “For
my parents” e imaginem um horizonte cinemático, longínquo, preenchido
por uma música tão bela como comovente. Música clássica no puro sentido epistemológico
do termo, onde a emoção e o sentimento caminham lado a lado com a criação e o
talento dos artesãos (Taka Goto, Takada, Tamaki e Yoda ).
E sinceramente, embora gostando muito de “Hymn to the Immortal Wind”, pouco me
importa que o registo anterior possa ser considerado um trabalho mais sólido/consensual.
“For
my parents” é um projecto construído em cinemascope, enorme, com todo
glamour e magia inerentes. E seja de “Legend”, “Nostalgia”, “Dream Odyssey”, “Unseen
Harbour” ou “A quiet place”, indiferentemente, brota de qualquer um daqueles
temas, um sentimento e uma atmosfera de quase religiosidade que, aqui sim,
aconchegam o espírito e alimentam a alma.
E de “For my parents” fica o essencial.
Tudo o resto serão tergiversações de carácter estético, academicamente interessantes,
mas redundantes face ao que está verdadeiramente em causa: os SENTIDOS.