Não é seguramente a primeira
vez que o Atalho se refere aos Pearls
Before Swine. Nem será certamente a última. Por aqui, a banda que Tom Rapp criou no final da década de 60
do século passado e os discos que a solo publicou, depois do projecto ter soçobrado,
possuem uma áurea verdadeiramente mítica. São como que pequenos opus, que à
data definiram/desenharam os contornos da canção de cariz psicadélico, sem que
quem os escutava se desse conta que estavam ali caleidoscopicamente compactados
elementos do folk, do jazz, da música antiga e até simulacros das emergentes
correntes avant-garde.
De então para cá, através de um processo moroso e tortuoso, Tom Rapp passou de proscrito a herói e nas
últimas duas décadas, as suas canções receberam por fim – ainda que timidamente
e sobretudo no âmbito dos circuitos underground - o reconhecimento que sempre mereceram.
Os neo-psicadélicos têm actuado como verdadeiros paladinos,
mas também os novos trilhos do folk contemporâneo não têm esquecido Tom Rapp. Steven Collins, o principal dinamizador
do projecto The Owl Service, acaba
de prestar mais uma homenagem ao mestre e aos Pearls Before Swine. O EP “There
used to be a Crown” foi pensado e concretizado enquanto tal.
Numa edição em vinilo, limitada a 100 exemplares, com capa
dupla de cartão, design cuidado, mini cdr apontado aos indefectíveis do digital
e um postal reproduzindo “O triunfo da Morte”, a pintura
renascentista de Pieter Bruegel, os Owl Service recuperam quatro temas lendários: “Green and Blue” e “Footnote”,
retirados do álbum “These Things too” (1969) e “Translucent Carriages” e “There was
a man”, ambos oriundos de “Balaklava”
(1968).
Mais de 4 décadas volvidas, a essência criativa das canções
permanece intacta e, qualquer que seja o juízo que se faça das versões, fica
patente a qualidade intrínseca das canções, as quais surgem tudo menos datadas.
Sinal evidente de que sempre estiveram à frente do tempo. Um facto que se saúda
pois é uma prova do talento, mas que por outro se lamenta uma vez que, como é
sabido, quem tem razão antes do tempo acaba sempre por ser olhado com
desconfiança, quando não proscrito.
“There used to be a Crown” tem o título adequado e no futuro revelar-se-á
um artefacto valioso.