Robert Haigh. Longe vai o experimentalismo dos anos
80 bem como as experiências drum &
bass dos 90s. Na fase actual, o
compositor britânico optou por deslocalizar-se para áreas outrora percorridas
por Eric Satie, Harold Budd ou Steve Reich e, em perfeita sintonia com o
instrumento ( o piano naturalmente ), comunica regularmente com o mundo através
de pequenos filmes instrumentais, miniaturas de uma beleza quase surreal, que a
um tempo nos surpreendem, manietam, ou nas mais das vezes, ambos.
“Strange and Secret Things” é o último opus de uma trilogia que Haigh
concebeu e gravou para a editora nipónica Siren e que incluiu “Notes
and crossings” (2009) e “Anonymous lights” (2010). Escutar os
17 pequenos solilóquios que constituem “Strange and secret things” é uma
experiência antiga, quase litúrgica, que nos retira desta época e remete para
lugares onde o tempo não conta, tão pouco como instrumento de medição.
Os belíssimos “Entre deux (Prelude)” e “Sons of Light
(Prelude)” são os temas que mais evidentemente se destacam do conjunto, mas as
variações de “Clear water” ou “Revenant (Prelude)” não deverão ser ignoradas. Tal
como não o devem ser “Piano with generative tones” e, sobretudo, “Requiem”, a
composição mais extensa ( 6m 15s ), e a único na qual para além do piano surgem
outros instrumentos: um vento silencioso, quase inaudível, e uma voz em loop. Não
consigo imaginar forma mais sublime de terminar “Strange and secret things”…