As grandes obras e os músicos que lhes estão na origem,
raramente andam nas bocas do mundo.
A história da música popular dos últimos 50 anos está repleta
de exemplos disso mesmo. Casos concretos?
Que tal, “If I could only remembre my name” (
David Crosby ), “Astral Weeks” ( Van Morrison ), “Little Feat” ( Lowell
George ), “David Ackles” ( David Ackles ), “Miss America” ( Mary Margaret
O’Hara ), “Fool’s mate” ou “Over” ( Peter Hammill ), “Stormcock” ( Roy Harper )
….
“Spirit of Eden” dos Talk
Talk ( basicamente um projecto de Mark
Hollis ) é mais um dos proeminentes casos a juntar aquela(s) lista(s). Em
1988, ao quarto álbum, a banda britânica terá inventado aquele que para o
Atalho constitui o “Astral Weeks” dos anos 80.Pós-rock metafísico, espiritual, sensorial. “Spirit of Eden” é feito de uma beleza e singeleza desconcertantes. Como se isso fosse em si mesmo uma tarefa fácil, Mark Hollis (depois de ter criado semi-hits adequados à época como “It’s my life” ou “Colour of Spring”), mergulhou num espaço experimental, para onde convocou o pop, o folk, o jazz, o progressivo, o blues e o clássico modernos. Ao trabalhar com especial minúcia, artesanalmente, partículas de todos estes elementos, construiu uma tapeçaria sonora, simultâneamente urbana e pastoral que o tempo, qualquer que ele seja, jamais conseguirá apagar ou fazer esquecer.
A recente reedição respeita a personalidade de “Spirit of Eden” Não existem temas extras ou inéditos que, no caso presente, só podiam contribuir para empobrecer e desvirtuar o original. Até neste aspecto a inteligência e o respeito pela arte prevaleceram.
O Paraíso, a existir, deve ser algo de muito parecido com
isto …