07/03/11

Bardo Pond "Bardo Pond"



Discos como este são a razão da existência do Atalho.

Os Bardo Pond andam por aí há quase duas décadas. Não tenho no entanto memória de os ter ouvido na rádio e muito menos sobre eles ter lido na imprensa escrita mainstream algo com dimensão significativa. Pese embora resistem. E ainda bem.

Procurem escutar “Don’t know about you” e depois, como pessoas inteligente e de bom gosto ( caso contrário já não estariam a ler este texto ) avaliem quão ridículo e inútil pode ser o tempo gasto a dar atenção aos “produtos” que os marketeiros de serviço nos procuram impingir ( atentíssimos, já começaram a destilar excitação com os anúncios dos novos Strokes e Radiohead …. ).

Mas vamos ao que realmente interessa. “Bardo Pond”, o álbum, é um monumento. Simultaneamente simples e sofisticado, como só a banda de Isobel Sollenberger sabe ser, principia com “Just once” uma espécie de “campfire song” inspirada na figura de Sam Shepard. A canção nasce no alpendre mas à medida que as guitarras se vão ligando à corrente eléctrica, transfere-se para a garagem. Logo a seguir, o referido “Don’t know about you” alapa-se ao nosso córtex de modo irreversível, tornando redundante grande parte do que MONO, Earth ou Grails haviam conseguido nessa matéria. Vai ser necessário andar com uma candeia acesa para no psicadelismo contemporâneo voltar a encontrar duas guitarras tão demolidoras. Um clássico.


Em “Sleeping” o colectivo de Filadélfia assume a faceta argonauta e parte em direcção ao planeta psicadélico outrora habitado pela tribo Airplane. “Undone” é por sua vez uma enorme palco onde evoluem sublimes guitarras atonais que a vocalização espartana de Sollenberger luta para manter contidas. É bem sucedida até cerca dos 10 minutos; aí a bateria não resiste à tensão acumulada e, ao explodir, propicia a libertação de largas camadas de fuzz e feedback , elementos responsáveis pelo desencadear da tempestade de meteoritos incandescentes que se vai seguir. A terminar, “Wayne’s Tune” é o regresso ao alpendre e à atmosfera melancólica, uma tela colorida em tons sépia pela flauta de Isobel Sollenberger.

Bardo Pond” foi publicado nos últimos dias de 2010 pelo que muito provavelmente só será contabilizado em 2011. Curioso, vou ficar a aguardar as famigeradas listas dos “melhores do ano”…